Pecuária de corte: conheça os sistemas de produção e seus aspectos

Pecuária de corte: conheça os sistemas de produção e seus aspectos

O Brasil é um dos líderes mundiais quando o assunto é a pecuária de corte, tanto que o país é o maior exportador de carne bovina do mundo. O objetivo de quem atua na atividade é produzir carne de qualidade com o menor custo possível, visando manter-se competitivo nesse mercado.

Nesse contexto, você conhece bem os sistemas de produção utilizados? Trata-se de um tema que merece análise, uma vez que nosso país possui dimensões continentais e existem diferentes climas e ambientes em seu vasto território. Esses fatores podem interferir na produção agrícola e na criação de animais, inclusive da pecuária de corte.

Sendo assim, neste post mostramos quais os sistemas de produção da pecuária de corte e quais as vantagens de cada um deles. Continue conosco e boa leitura!

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O Brasil e a importância da pecuária de corte

De acordo com o relatório divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), em 2021 a pecuária de corte movimentou R$ 913,14 bilhões de reais, incluindo desde valores dos insumos utilizados, investimentos em genética, sanidade, nutrição, vendas no mercado interno e exportações.

Ainda segundo o relatório, em 2021 o Brasil produziu 9,71 milhões de toneladas de carcaça equivalente (TEC). Desse total, foram exportadas 25,51%, o equivalente a 2,48 milhões de toneladas de carcaça, consolidando o Brasil na primeira posição em exportação de carne bovina no ranking internacional.

Ademais, o rebanho brasileiro de bovinos é o segundo maior do mundo, atrás apenas da Índia, chegando a 224,6 milhões de cabeças em 2021, um crescimento de 3,1% na comparação com 2020 de acordo com os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o maior efetivo desde 2016, ano que também apresentou recorde, com 218,2 milhões de cabeças.

Grande estrutura de confinamento de pecuária de corte
O Brasil tem o segundo maior rebanho de bovinos do mundo, com mais de 224 milhões de cabeças.

Os dados que citamos acima refletem a força do Brasil no cenário mundial como produtor e exportador de gado de corte. Considerando que a demanda tende a aumentar ainda mais ao redor do mundo, tendo em vista o aumento da população, o pecuarista deve buscar o melhor sistema para produzir com mais eficiência e gerar menos gastos.

Por isso, é necessário conhecer e entender os diferentes sistemas de produção na pecuária de corte e as suas respectivas vantagens e desvantagens.

Sistemas de produção na pecuária de corte

A produção de gado de corte ocorre basicamente por meio de três sistemas de criação: extensivo, semi-intensivo e intensivo. Confira como funciona cada um deles, suas vantagens e desvantagens.

Sistema extensivo

Esse sistema é o mais tradicional e aplicado no Brasil e representa cerca de 95% da criação de animais, ocupando uma área total de aproximadamente 167 milhões de hectares. Por meio dele, o gado é criado solto em grandes extensões de áreas de pasto, com alimentação direto na pastagem natural, sem suplementação.

Trata-se de um sistema muito popular, pois proporciona a economia com equipamentos, instalações e mão de obra, aproveitando ao máximo os recursos naturais da propriedade. Porém, como os animais ficam livres para se movimentar, o seu ganho de peso é prejudicado, levando mais tempo para que atinja o ponto de abate.

Pecuária extensiva na criação do gado de corte
Na pecuária extensiva os bovinos ocupam grandes extensões de área. É o principal sistema de criação no Brasil.

Por tratar-se de um sistema de produção que gera menos custos de produção, aumenta-se a competitividade do produto no mercado. Além disso, a pecuária extensiva confere um diferencial qualitativo à carne, uma vez que não apresenta riscos associados ao “mal da vaca louca” que tem relação direta com o fornecimento de proteína animal na alimentação do rebanho.

Há que se destacar também que, por explorar os recursos naturais da propriedade, o sistema extensivo pode causar o desgaste do solo e prejudicar a capacidade de sustentação da pastagem. Por isso, é fundamental que o criador tenha conhecimento quanto ao manejo do gado, considerando a taxa de lotação nos diversos tipos de pastagens, sejam elas naturais, artificiais ou cultivadas.

Para aumentar a produção do gado nesse sistema é necessário possuir grandes áreas de pastagem disponíveis. O ideal nesse sistema de pastejo é que seja possível maximizar a criação do gado sem afetar a persistência das plantas forrageiras.

Vantagens da pecuária extensiva:

  • Baixo investimento em infraestrutura (equipamentos e instalações);
  • Menor exigência de mão de obra;
  • Baixos gastos com alimentação;
  • Ideal para pecuária de corte;
  • Gera maior competitividade no mercado.

Desvantagens da pecuária extensiva:

  • Dificuldade de controle e monitoramento do rebanho, tendo em vista que são criados soltos;
  • Baixa produtividade;
  • Maior tempo para atingir o ponto do abate;
  • Desgaste do solo;
  • Exigência de disponibilidade de grandes áreas para aumentar a produção.

Sistema semi-intensivo

A produção semi-intensiva (semiconfinamento) de gado de corte é o modelo que busca um equilíbrio entre o uso de pastagem e confinamento, associando-os de modo sucessivo ou simultâneo.

Nesse sistema, geralmente os animais permanecem nos estábulos durante um período do dia, onde receberão ração e demais suplementos, e posteriormente são soltos em piquetes com disponibilidade de água e boas pastagens.

Parte do tempo o rebanho é criado a pasto, porém em piquetes reduzidos em relação à pecuária extensiva. Por isso, é um sistema muito utilizado em zonas suburbanas (ao redor dos grandes centros) em que as áreas disponíveis são menores, bem como em locais onde a maior parte das terras são destinadas à agricultura.

Em algumas fazendas é aplicada a técnica de rodízio ou rotação de piquetes, por meio do qual algumas dessas áreas passam por períodos sem animais com o propósito de recuperação da pastagem. Essa técnica permite ao pecuarista extrair a melhor qualidade da forragem, bem como a sua maior produção.

Quando submetidos ao confinamento, esses animais recebem alimentação balanceada, sal mineral nos cochos e vermifugação. Durante a noite, existe a possibilidade de mantê-los fechados com o fornecimento de ração.

Gado dividido em piquetes para pecuária de corte.
Na pecuária de corte semi-intensiva o pasto é dividido em piquetes, possibilitando a recuperação das pastagens.

Os animais criados pelo sistema semi-intensivo conseguem atingir o peso para o abate de maneira mais rápida se comparado ao sistema extensivo. No entanto, trata-se de um sistema menos econômico, já que exige mais instalações e trabalho, destinando-se a um tipo de gado mais aperfeiçoado.

Para que o modelo de pecuária semi-intensiva seja bem-sucedido, é preciso que haja a disponibilidade de cochos com fácil acesso aos animais, bem como um manejo eficiente realizado por mão de obra qualificada.

Vantagens da pecuária semi-intensiva:

  • Instalações simples;
  • Redução da idade de abate;
  • Demanda menor quantidade de espaço de propriedade;
  • Exige menores investimentos em comparação com a intensiva;
  • Aumento da produção de arrobas por animal e por unidade de área. 

Desvantagens da pecuária semi-intensiva:

  • Investimento em pastagens de bom valor nutricional;
  • Exige mão de obra mais capacitada;
  • Investimento em infraestrutura e planejamento estratégico no uso da área e criação dos piquetes;
  • Investimento em ração e suplementação animal.

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Sistema intensivo

A pecuária intensiva (ou confinamento), é um modelo de pecuária de corte no qual os animais ficam confinados em áreas restritas, alimentados exclusivamente com forrageiras, ração e suplementação, garantindo resultados acelerados.

O propósito é criar o maior número de cabeças no menor espaço possível. Os bovinos, dentro do confinamento, têm o seu desenvolvimento acelerado e engorda, sendo que o tempo para o abate é significativamente reduzido, o que traz uma dinâmica diferente na pecuária de corte, com uma rotatividade de animais mais rápida.

A alimentação do gado é realizada por meio de cochos, de forma controlada e com uma dieta balanceada, visando o ganho de peso com a menor perda possível em termos de desperdício de alimentos. A produtividade é mais alta que nos modelos de pecuária de corte extensiva e semi-intensiva.

Gado de corte mantido em sistema de confinamento, com alimentação disponível em cochos.
Na pecuária intensiva o gado permanece em confinamento, recebendo alimentação a base de ração e concentrados, proporcionando a engorda mais rápida, visando o abate.

Contudo, esse sistema exige maior investimento de capital e trabalho, com mão de obra especializada, infraestrutura, manejo mais detalhado e tecnologias específicas com o propósito de garantir a nutrição adequada aos animais.

Vantagens da pecuária intensiva:

  • Controle completo do ciclo de vida do animal, inclusive do seu ganho de peso;
  • Maior produtividade;
  • Ótimas taxas de lotação por hectare;
  • Redução do tempo para o abate;
  • Rendimento mais alto da carcaça no período de terminação.

Desvantagens da pecuária intensiva:

  • Demanda maior investimento em infraestrutura;
  • Exige mão de obra especializada;
  • Investimento em tecnologias de última geração;
  • Altos custos com manejo e alimentação.

Desafios de produção da pecuária de corte

Independentemente do sistema a ser adotado na pecuária de corte, todo pecuarista tem uma série de desafios a serem superados. O aumento da produtividade por área sempre será o maior de todos eles. Aumentar a quantidade de arrobas por hectare é o objetivo principal a ser alcançado.

Lembrando que a atividade de pecuária de corte vem se mantendo aquecida nos últimos anos com a crescente demanda do mercado interno e externo. Todavia, é preciso escolher a melhor forma de produzir, uma vez que mesmo que o preço da arroba subindo, os custos de produção muitas vezes seguem a mesma proporção.

A seguir estão alguns dos principais desafios enfrentados hoje na pecuária de corte.

Manejo nutricional e da alimentação

O ganho de peso constante até o abate é um desafio comum ao pecuarista brasileiro, já que as pastagens em geral têm baixo valor nutritivo em energia e proteína, o que dificulta a engorda dos animais criados de forma extensiva.

Rebanho bovino em pastagem e vegetação ao fundo.
Na criação do gado, principalmente de forma extensiva, é primordial garantir uma boa pastagem.

De maneira geral, o produtor brasileiro lança mão do uso de suplementação com sal mineral e silagem, buscando equilibrar a dieta dos animais e melhorar o seu ganho de peso.

Aspectos sanitários

O gado de corte está sujeito a diferentes doenças que podem interferir no ganho de peso dos animais e na produtividade em geral, como é caso da Brucelose, Febre Aftosa e Raiva.

Sendo assim, a vacinação é de suma importância não só para garantir a saúde dos bovinos, mas também dos seres humanos que podem ser afetados por essas doenças.

O ideal é investir em manejo adequado e realizar o controle do rebanho em todas as suas fases de vida, atentando-se ao calendário de vacinação e todos os manejos sanitários contra parasitas, moscas e carrapatos.

Seringa com conteúdo amarelo para aplicação de vacinas em bovinos. Ao fundo, bovinos desfocados.
O pecuarista deve ficar atento ao calendário de vacinas e manejos sanitários dos animais.

Bem-estar e comportamento animal

Períodos de seca são comuns em várias regiões do Brasil e podem interferir diretamente no bem-estar e no comportamento animal, pois atingem diretamente a disponibilidade de forragem aos bovinos e proporciona a queda do valor nutricional das pastagens.

As mudanças climáticas que ocorrem entre o outono e inverno ocasionam a redução do volume e frequência das chuvas e queda de temperatura, resultando em baixa produção de matéria seca por hectare e perda da qualidade da forragem.

Durante os períodos de seca, as pastagens ficam com deficiência de proteína. Por isso, é importante investir na sua suplementação com o objetivo de melhorar a digestibilidade, taxa de passagem e o consumo de forragem. Dessa forma, minimizam-se os efeitos da baixa ingestão de matéria seca, melhorando o ganho de peso e a conversão alimentar.

Outra técnica que auxilia a diminuir os efeitos das secas, muito utilizada pelos pecuaristas, é a rotação dos piquetes, que já abordamos acima.

Adequação das instalações às necessidades dos animais

O bom manejo dos animais depende muito da qualidade das instalações, como currais, cochos, estábulos, baias e mangueiras, que devem não apenas ser mantidos em bom estado, mas também serem limpos de forma adequada entre os manejos, com o fim de garantir o bem-estar do animal no local.

Bovinos consumindo água em bebedouro.
Um dos cuidados, além da alimentação, é garantir água limpa em boa quantidade à disposição dos animais.

No caso do gado criado a pasto, em locais muito quentes, é fundamental contar com áreas de sombreamento para que esses animais tenham um abrigo nas horas mais quentes do dia, contando com boa disponibilidade de água.

Treinamento da equipe

Uma boa equipe, com pessoas bem treinadas, certamente irá realizar um ótimo trabalho no manejo dos animais. Peões engajados e com alto grau de conhecimento são responsáveis pelo sucesso de uma fazenda, auxiliando a melhorar cada vez mais os processos e aumentar a produtividade da propriedade.

Lida de gado de corte em pasto. Peão em cima de cavalo tocando boiada em propriedade.
Uma equipe bem treinada também é indispensável para o sucesso na criação do gado de corte.

Portanto, os aspectos da pecuária de corte são bem complexos e uma das etapas mais importantes é a escolha do sistema de produção que será responsável pela qualidade e produtividade do rebanho.

Além disso, é preciso buscar novas técnicas, melhoramento genético dos animais, nutrição e, principalmente, uma boa gestão do negócio como um todo. Dessa forma, a sua propriedade pode alcançar a melhor produtividade possível.

Gostou do artigo? Confira também nossa sugestão complementar de leitura: Particularidades do manejo reprodutivo em gado zebu.

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