Particularidades do manejo reprodutivo em gado zebu

Particularidades do manejo reprodutivo em gado zebu

Segundo o IBGE, o Brasil conta com 218,2 milhões de cabeças de gado, com destaque para o mercado de carne: o gado zebu Nelore constitui a maior parte do rebanho de gado de corte criado extensivamente no Brasil, respondendo por cerca de 80% da composição brasileira.

Nesse sentido, a movimentação financeira decorrente do abate e comércio de carne reflete diretamente na economia brasileira. De acordo com dados da ABRAFRIGO, entre janeiro e abril de 2022 foram exportados mais de 732 milhões de quilos de carne e derivados, movimentando mais de 4 bilhões de dólares. Números bastante expressivos, não é mesmo?

Frente a essa realidade, caro criador, como é possível desfrutar ao máximo desse cenário? Para o gado zebu, o manejo reprodutivo é a raiz de toda produção em cadeia, assim como em qualquer criação animal.

Sendo assim, leia na íntegra o artigo que preparamos pra você e saiba como o manejo reprodutivo ajustado pode ser a sua melhor escolha e por quê. Confira!

Características do gado zebu

A gestação dos zebuínos compreende cerca de 5 a 10 dias a mais que a média, resultando em um total de 280 a 295 dias. Nesse sentido, o tempo total entre os intervalos dos partos será impactado, de forma a refletir diretamente no ciclo estral das fêmeas.

Gado zebu se alimentando no cocho com suplementação forrageira
Entender que a reprodução do gado zebu não é uma questão isolada te ajuda a perceber a grande importância do manejo nutricional bem equilibrado no rebanho.

Dessa maneira, também é relevante saber que a manifestação do cio é fator secundário no que diz respeito a homeostase, desenvolvimento e produção, isto é, a prioridade do animal é a manutenção de sua própria condição corporal e do bezerro, e não o início de novo cio para dar continuidade ao ciclo produtivo.

A fim de entender melhor, saiba que o alimento ingerido servirá para:

  1. Mantença da homeostase – manutenção da vida, saúde dos órgãos e metabolismo basal;
  2. Cuidados com a cria, o que envolve também a lactação para nutrição de bezerros recém paridos;
  3. Aporte nutricional em primíparas, que ainda estão em crescimento;
  4. Recuperação da condição corporal, perdida na gestação e parto;
  5. Reprodução – em último lugar.

Leia também: Impacto do período de transição em vacas leiteiras.

Realidade para produção de carne brasileira

A realidade brasileira de criação em sistema extensivo é um eterno equilibrar-se entre fatores que oscilam em larga escala. Dessa forma, estabelecer uma produção auto suficiente, ou seja, que represente lucros reais com garantia de completa manutenção, é o ideal.

Com isso em vista, considere que os sistemas extensivos exigem forragem de alta qualidade, e os ciclos das forrageiras são dependentes das épocas das águas, de forma que em determinado período do ano, o acesso a forragem de qualidade tende a diminuir consideravelmente.

O reflexo disso será observado direto no escore corporal das vacas e no manejo reprodutivo, na mesma proporção.

Gado zebu em pasto
A época das águas no Brasil compreende cerca de 150 a 180 dias, e a altura ideal para o consumo do capim é de 80 cm.

Além disso, é fato que a questão reprodutiva – tanto das matrizes como dos reprodutores – será invariavelmente relacionada com a condição corpórea adequada. Portanto, tenha em mente que a baixa produtividade é que vai encarecer ainda mais seu processo produtivo.

Isso significa que as fêmeas submetidas somente a sistemas extensivos não vão apresentar manejo reprodutivo eficiente? Não necessariamente!

A adoção de estação de monta, respeitando o maior pico de oferta de forrageiras de qualidade, pode ser uma opção inteligente nesses casos, assim como o uso de piqueteamento com manejo rotacionado e cuidados com a adubação desse solo. Considere também um planejamento de suplementação dos lotes de fêmeas, para assegurar resultados positivos nesse mesmo sentido.

Ademais, convém lembrar que vacas que não estão com o escore corporal na faixa de 5 (em uma escala de 1 a 8) não vão apresentar cio e, consequentemente, sem bezerros nascidos ao ano, a conta tende a se desequilibrar.

Ainda, para certificar-se da ausência de problemas secundários, assegure a condição sanitária de todas as vacas e acompanhe o ciclo estral com exames ginecológicos.

Importância da boa definição da Estação de Monta

Nascimentos ocorridos ao longo do ano não trazem benefícios, já que o pico de demanda nutricional das vacas será na fase gestacional e de parto recente. Assim, definir a estação de nascimentos do gado zebu pode nortear sua estação reprodutiva também.

Sabe qual a melhor época para o nascimento de bezerros? Final do período seco e inicio das águas. Por quê?

O final da seca – predominantemente entre final de setembro e início de novembro – vai assegurar menor chance de infecções e problemas sanitários. Isso porque o cenário ainda de poucas águas favorece o rebrote forrageiro e o fato de não existir áreas alagadas contribui com uma menor taxa de mortalidade.

No mesmo sentido, a alimentação para as recém paridas com alta demanda passa a ser de maior qualidade, já que a reserva forrageira vai ficando maior com a época das chuvas chegando.

Bezerro jovem ao pé da mãe, soltos no pasto
O rebrote da forrageira vai garantir maior disponibilidade de alimento e reposição nutricional para as matrizes na época correta.

Em sistemas que não existe uma estação de monta definida, as vacas vão parir o ano todo, o que diminui a taxa de natalidade e produz lotes de bezerros desuniformes, dificultando manejos sanitários de vacinação, vermifugação, bem como a questão comercial.

Na estação de monta bem definida, as vacas inférteis são identificadas com maior facilidade. Com esse pequeno detalhe, não há manutenção de fêmeas que não produzem crias, o que equilibra a balança financeira. O desgaste do touro também é menor, o que permite previsão de exames andrológicos com antecedência de cerca de 60 dias da estação de monta.

Portanto, soltar o touro com as vacas para ter monta o ano todo não é eficiente!

Com foco em aumento de produtividade, defina a atual realidade através de seus índices reprodutivos, tendo a atenção totalmente voltada para a reprodução, com incrementos reais inclusive relacionados ao aprimoramento genético de seus animais.

Índices ideais a se considerar para o gado zebu

Considere que seu gado zebu esteja solto em lotes bem formados, com oferta de alimento de qualidade, talvez até sendo suplementados. Dessa forma, o ideal que você pode esperar é:

  • Fertilidade em torno de 80%;
  • Fecundidade acima de 75%;
  • Mortalidade até 4%;
  • Desmame aproximado de 70%;
  • Intervalos entre partos de 12 a 14 meses – 1 bezerro por ano;
  • Taxa de natalidade em 85%;
  • Período de serviço de 80 a 120 dias;
  • Idade ao primeiro parto: ideal entre os 24 e 36 meses;
  • Início da primeira prenhez o quanto antes, por volta dos 15 meses.

Infelizmente, a realidade da pecuária ainda é bem distante desses índices em sua maioria. Mas não desanime! É possível chegar a esses indicadores, se partir de um manejo racional bem conduzido. Identifique seus animais, mantenha os dados catalogados e o foco na reprodução!

Avaliação e acompanhamento produtivo do gado zebu
Em um cenário ideal, cada vaca vai parir um bezerro por ano e desmamá-lo quando pesado. Para isso ocorrer, o principal desafio é reduzir o período de serviço. Um anestro de 60 dias deve ser considerado o limite para as fêmeas.

O papel do reprodutor zebuíno

Touro melhorador, ou o Puro de Origem (P.O): vale a pena adquirir e manter esse tipo de animal na sua propriedade?

Partindo de um reprodutor provado, embora o valor de investimento inicial seja maior e as demandas nutricionais também, saiba que:

  • A bezerrada formará lotes uniformes (em estações de monta bem definidas);
  • Em cerca de 6 meses, pós nascimento, vão apresentar diferença de ganhos de até 15 kg;
  • Ganho de peso e precocidade, chegando na casa de 25 kg em cerca de 8 meses;
  • Incremento genético importante;
  • Alto valor de mercado nas crias;
  • Reposição de alto potencial ao rebanho.
Touro zebu a pasto
Com cálculos precisos, o investimento vale a pena! Um touro melhorador deixa filhos mais produtivos, o que traz maior ganho financeiro ao longo dos anos.

A fim de reforçar o custo-benefício envolvido em adquirir um reprodutor de alta performance, a garantia é de:

  • Ganho extra no valor genético aditivo;
  • Filhos com padrões desejáveis pelo mercado, o que impacta na sua taxa de desfrute;
  • Garantia de fertilidade e sanidade (não contamina as matrizes);
  • Produção de filhos precoces e fêmeas que podem ser a reposição das matrizes;
  • Alta conversão alimentar (sem genética, a questão nutricional terá pouca influência, já que a conversão sempre é inferior).

Definitivamente, seu manejo reprodutivo quando bem conduzido vai priorizar o macho, assim como as matrizes, independente da escolha da técnica reprodutiva, isto é, optando em monta assistida ou inseminação artificial.

Resultados a longo prazo

Resumindo: para dedicar-se na realização de um manejo reprodutivo eficiente, leve em conta os seguintes aspectos:

  • Sistema extensivo com oferta de forragem de qualidade;
  • Animais saudáveis e dados produtivos bem catalogados;
  • Estação de monta e de nascimento bem definidas;
  • Matrizes e Reprodutores recebendo dedicação especial.

Entenda que: qualquer economia nos principais gargalos identificados até aqui, a nível de rebanho, não só será consistente como também muito expressiva.

Ao longo dos anos sua resposta será muito mais palpável e, além disso, seu processo será equilibrado em termos de investimento X retorno, permitindo usufruir de uma rentabilidade real.

E então, esse artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também nosso post sobre manejo reprodutivo do gado leiteiro. Boa leitura!

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