O período de transição em vacas leiteiras sugere muitas mudanças, sejam elas relacionadas ao corpo da fêmea – que logo vai parir um bezerro que chega ao mundo com 25 kg de peso vivo, em média – seja devido a circulação de novos hormônios, ou quem sabe ainda, devido a comportamentos relativamente novos na vida dessa vaca.
Essas mudanças podem estar relacionadas também com o fato de que as matrizes em questão estão em fase de transição alimentar, sendo muitos os pontos da dieta que recebem atenção, a fim de alcançar um padrão produtivo e sanitário ideal.
Muito provavelmente, o tema em questão é um dos mais abordados da cadeia de leite. Se você sabe que o metabolismo será 75% mais exigido para essa vaca após o parto, com certeza vai se planejar melhor e dedicar maior atenção a esse momento tão importante no retrato produtivo total.
Por isso, vale a pena entender de uma vez por todas o que é o período de transição em vacas leiteiras e como conduzi-lo, bem como conhecer algumas dicas para garantir que seu rebanho fique seguro durante esse período e também depois dele.
Ficou curioso? Se você quer saber mais sobre o assunto, continue a leitura e aproveite as sugestões!
O que é o período de transição em vacas leiteiras?
Basicamente, o período de transição das vacas de leite deve compreender o período de 3 semanas antes do parto, seguido por 3 semanas após o parto.
Saindo do status de vaca seca (que não tem produção de leite), para um momento de alta produção, seria muito interessante que o manejo fosse bem direcionado, colocando os animais em lotes, já que o metabolismo e as necessidades serão muito específicas.
Esse momento, entre outros detalhes, supõe uma pausa para ocorrer um novo arranjo da glândula mamária e picos produtivos. Por outro lado, também há uma dificuldade na locomoção, até no momento de descanso, ao deitar e ao levantar, assim como de se alimentar com outras vacas.
Durante esse intervalo, as vacas sofrem mudanças significativas no seu metabolismo e fisiologia, que as preparam para o parto e para a lactação posterior. Vacas de alta produção necessitam de altíssimo cuidado e inclusive terapias medicamentosas bem assistidas, já que a demanda produtiva é também alta e a sensibilidade a desvios é importante.
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Por que você deve ficar atento a esse período?
É crucial se manter atento, pois caso a vaca não receba a atenção da qual precisa, podem ocorrer patologias que, além de comprometerem seu bem-estar, podem colocar em risco suas futuras lactações, diminuir sua capacidade de reprodução e até afetar a taxa de descarte.
Durante o período de transição, a carga hormonal é enorme, o corpo demanda mais nutrientes para enriquecer o leite, as glândulas das mamas se desenvolvem, o feto cresce e o animal fica desconfortável com isso.
A formação de lotes novos com as vacas prenhas é necessária, porém, no caso da presença de algum animal com personalidade mais dominante, pode resultar no comprometimento do acesso aos alimentos por outras vacas, o que tem grande impacto logo nos primeiros dias após o parto, já que os animais precisam de cuidados especiais.
Por exemplo, o BEN – Balanço Energético Negativo, que ocorre logo após o nascimento das crias, vai influenciar diretamente em questões como:
- Retenção placentária;
- Cetose;
- Hipocalcemia;
- Descalcificação;
- Lipidiose hepática.
Sendo assim, o cuidado precisa ser redobrado, pois a condição uterina dessa fêmea não permite que ela consiga ingerir a quantidade de alimento ideal, contribuindo para esse balanço negativo, o que faz que ela fique mais suscetível a várias complicações. Portanto, ao saber que a probabilidade dessa vaca ficar doente é muito maior, o pecuarista deve se preparar para agir no momento certo.
Também é necessário fornecer alimentos com energia e minerais adicionais para a primeira semana após o parto, onde a demanda será especialmente maior.
Como funciona esse período, na prática?
São observados – principalmente nas vacas de alta produção – alguns comportamentos diferentes, especialmente relacionados a alimentação e comportamento de ingestão, queda na locomoção e saúde mais sensível.
Sabemos que o consumo de matéria seca cai antes do parto, afetando todo o seu desempenho, já que o corpo está demandando muito mais da vaca para gerar o feto. No ímpeto de manter a condição corpórea em dia, oferecer concentrados em excesso pode elevar muito o peso, causando prejuízos posteriormente.
Por isso, o manejo ideal é preparar a fêmea para além do parto, já visando uma nova lactação pós-parto e oferecendo alimentação correta, que deve ser vasta e nutritiva.
No vídeo abaixo, veja alguns manejos indicados para esse período da vida da vaca leiteira:
Saiba também, que a vaca recém parida pode sofrer e até desenvolver doenças que vão ter a dinâmica do efeito dominó, ou seja, uma doença vai causar a outra, entrando em um ciclo altamente prejudicial, afetando negativamente o desempenho produtivo e econômico da propriedade.
Vacas doentes, além de não produzirem, demandam diversas despesas, como:
- Acompanhamento técnico veterinário;
- Tratamento medicamentoso;
- Espaço físico;
- Mão de obra para acompanhar a vida produtiva;
- Manejo especial.
Portanto, é nesse período de transição que o produtor tem a oportunidade de minimizar os riscos e otimizar os resultados do pós-parto. Para isso, ele pode se valer de um bom manejo dos animais, proporcionar conforto e bem-estar ao rebanho, e ainda redobrar a atenção com o equilíbrio da nutrição.
Por que dar atenção especial para as vacas no período de transição?
A fim de evitar que os prejuízos sejam maiores e cumulativos, o conselho é se planejar para a época de transição, baseado na data provável de parto, e assim, prover as reais necessidades dessas matrizes.
Convém avaliar os detalhes do esquema abaixo, para entender melhor como o consumo de matéria seca (CMS) e a baixa disponibilidade de fibra de qualidade ou de outros itens vitais impactam de forma negativa o processo de recuperação do animal e de produção da fazenda.
Ou seja, a nutrição e o conforto ambiental das vacas no final da gestação desempenham um papel importante quando se trata do futuro da sua produção de leite.
É fundamental dedicar atenção a saúde do período de transição do seu rebanho, para reduzir ao máximo quadros com bezerros abaixo do peso ao desmame, dificuldades metabólicas e reflexo direto na capacidade e desenvoltura reprodutiva.
Dessa maneira, as estratégias de formulação nutricional devem visar quantidades adequadas de carboidratos, proteínas e lipídeos, bem como minerais e vitaminas. Além disso, a inclusão de alguns aditivos palatáveis vão facilitar a microbiota do rúmen, gerando a energia necessária, e terão maior interesse por parte dos animais.
Como cuidar das vacas no período de transição?
Se você deseja redobrar seus cuidados neste período, fique atento para essas dicas que ajudarão no período de transição de vacas leiteiras!
Boa alimentação
Como você viu, a alimentação está entre os fatores mais importantes do período de transição dos animais.
O consumo alimentar diminui muito. Enquanto isso, a demanda por energia está crescendo, afinal, existe um bezerrinho em desenvolvimento. Como essa equação não bate, é preciso encontrar meios de aumentar a densidade de energia da dieta, já que o volume decai.
Isso é conquistado por meio de um balanceamento eficiente e, é claro, de um bom manejo nutricional. Recorrer a forragens de alta qualidade e mais palatáveis no pós-parto é apenas um exemplo de como isso pode ser feito.
Em geral, é importante ter em mente que quanto maior a densidade de energia fornecida através da dieta, menos o organismo do animal vai mobilizar a sua gordura para conseguir esse recurso. Com isso, se evita a perda drástica de peso, o que certamente contribuirá para a recuperação da vaca.
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Separação de lotes
Quando você tem um animal que já não come mais da mesma maneira, não tem tanta disposição e está passando por uma fase de alta demanda nutricional, tudo o que você não precisa é que ela fique competindo por alimento. Isso vale tanto para o período de pré quanto pós parto.
Por isso, é fundamental recorrer à separação dos lotes de animais, o que vai deixá-las mais confortáveis e seguras, e ainda facilitar o seu manejo. Quando você reúne um grupo de vacas recém-paridas, consegue atender às suas demandas adequadamente e evita o risco de deixá-las com animais em plena capacidade produtiva.
Caso isso seja fisicamente impossível dentro da sua propriedade, experimente recorrer a algumas adaptações:
- organize um espaço de cocho com disponibilidade de 1 metro por animal;
- considere aumentar a quantidade de sobras da dieta;
- tenha uma formulação de dieta com base nas exigências nutricionais das primíparas.
Teste do pH da urina
Outra dica bastante válida é acompanhar constantemente a urina dos animais, considerando tanto o pH como outros detalhes, como coloração, odor, aspecto, presença de gordura ou açúcar. Afinal, assim é possível indicar o nível de suplementação aniônica, além de favorecer a identificação de comprometimentos metabólicos, como cetose e hipocalcemia, inclusive em fases iniciais da doença.
Na rotina da fazenda, é muito simples incorporar essa medição, desse modo, você saberá sempre que a diferença catio-aniônica estiver fora dos parâmetros determinados.
Outros cuidados
Outros cuidados que podem ser tomados com esses animais incluem:
- saúde e comportamento: fique atento aos sinais dos animais, observe sua frequência respiratória, sua ruminação e quantos animais estão se mantendo em pé;
- palatabilidade da dieta: como as vacas costumam comer menos enquanto estão na transição, é importante oferecer alimentos mais gostosos para abrir seu apetite;
- localização: certifique-se de deixar os animais por perto, em um espaço que você consiga visualizá-las constantemente;
- espaço de cocho: não se esqueça que o cocho deve ser grande o suficiente para evitar disputas na hora de comer;
- água em abundância: a água deve ser limpa e estar sempre disponível, calculada de acordo com o consumo de matéria-seca;
- higiene e bem-estar: mantenha o local o mais limpo possível, evite fatores estressantes e procure o conforto do rebanho.
Lembre-se que o período de serviço mal conduzido impede essas fêmeas de alcançar o potencial genético, e quem perde com isso é o produtor. Mesmo que ele tenha um grande número de animais, se não manejá-los da forma correta, vai reduzir sua rentabilidade ou até acabar tendo prejuízos.
Conhecer e colocar em prática pequenas mudanças em seu manejo diário, te ajuda a garantir rebanhos mais confortáveis e saudáveis, gestantes mais bem nutridas, bezerros mais fortes e a total capacidade produtiva de seu rebanho leiteiro. No fim, isso resulta em um volume de produção maior e, é claro, mais dinheiro para a propriedade.
E agora que você já sabe mais sobre o manejo e a nutrição das vacas leiteiras durante o período de transição, ficou com alguma dúvida? Se sim, basta deixar aqui nos comentários que nós responderemos!
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