Você sabe o que é pedilúvio? Trata-se de um local reservado para o banho dos pés dos animais para fins de tratamentos medicamentosos. É um cuidado bastante conhecido por pecuaristas de todo o mundo, especialmente por aqueles que trabalham com gado de forma intensiva.
A claudicação é um problema muito comum, principalmente em rebanhos de alta performance, seja por origem metabólica ou por acúmulo de sujeira e bactérias nos tecidos podais. De qualquer forma, problemas de cascos causam dor, desconforto e prejuízos impactantes aos animais.
Desse modo, caso não sejam tomadas as medidas de tratamento necessárias, o resultado é a queda brusca do bem-estar animal, com reflexos e comprometimento dos índices produtivos.
Não raro observam-se animais mantidos em sistemas de altas demandas produtivas com afecções que poderiam ser evitadas a partir do manejo ajustado, incluindo o pedilúvio. Sendo assim, neste artigo você vai saber mais sobre essa técnica e quais os cuidados necessários ao implementar na sua lida diária. Confira!
Leia também: Como fazer os primeiros socorros em animais na fazenda?
O que é pedilúvio e como realizá-lo
Pedilúvio é um local ou recipiente que contém soluções sanitizantes destinadas a tratamentos medicamentosos preventivos e terapêuticos para os cascos dos animais. Pode acontecer de forma manual ou automática e é comumente encontrado em currais, salas de ordenha, confinamentos e corredores.
Trata-se de um processo importante para a sanidade dos animais, ajudando também a evitar a proliferação de bactérias e fungos, diminuir a incidência de lesões digitais, além de favorecer a rotina de manejos, já que é simples e prático de ser realizado.
No entanto, é importante ressaltar que ele não substitui a limpeza completa do ambiente e dos animais.
O que colocar no pedilúvio?
Existem algumas soluções mais utilizadas, embora a literatura científica não tenha determinado completamente os critérios e padrões de soluções. Podemos citar os seguintes princípios ativos:
- Hipoclorito de sódio;
- Formalina;
- Sulfato de cobre;
- Cloridato de polihexametileno biguanida (PHMB);
- Sulfato de zinco;
- Cal.
Cabe destacar que o procedimento é considerado tanto preventivo como terapêutico. Dessa forma, seria possível utilizar antibióticos no pedilúvio? Até seria, não fosse os contras dessa tomada de atitude, como:
- Alto custo;
- Alto risco de toxicidade;
- Possíveis efeitos irritantes na pele e nos cascos;
- Efeitos adversos na pele das pessoas que manipulam a solução;
- Alto risco de absorção transcutânea, resultando em resíduos na carne e leite.
Portanto, de maneira geral, os pedilúvios vão conter apenas soluções sanitizantes e desinfetantes de baixo potencial tóxico.
Veja também: Castração de bovinos: confira os principais cuidados
Como escolher o tipo de pedilúvio ideal
Para definir qual o pedilúvio ideal para o seu rebanho, primeiramente deve-se verificar se o rebanho está seriamente afetado e se há problemas de casco frequentes.
Caso a resposta seja afirmativa, lembre-se de identificar as causas iniciais, ou seja, se há associação com manejos inadequados frequentes. Além disso, preste atenção à sanidade geral desses indivíduos, pois grande parte das vezes o problema instalado reflete apenas o que é percebido como doença dos cascos.
Outros pontos pertinentes a se considerar:
- Quantidade de animais;
- Estrutura do local;
- Se há acesso à pastagem;
- Mão de obra.
Tendo clareza do que considerar, escolha entre os principais tipos de pedilúvios existentes.
Pedilúvio de passagem
O tipo mais comum de se encontrar é o pedilúvio de passagem. Como o próprio nome já diz, tratam-se de dois locais ou recipientes posicionados entre os corredores de passagem, contendo água limpa para a retirada do acúmulo de sujidades e solução desinfetante escolhida para a prevenção e tratamento de doenças.
Geralmente os produtores de leite optam por esse tipo de pedilúvio, por meio do qual as vacas vão passando, em fila indiana, inicialmente na água limpa e, após a ordenha e com os cascos relativamente limpos, passam pelo tratamento de fato.
O vídeo abaixo demonstra como é feito o pedilúvio de passagem para vacas em lactação. Confira:
Pedilúvio de passagem em piquetes
Extremamente similar ao de passagem para vacas de leite, sendo esse tipo de pedilúvio destinado aos animais mantidos em pastagem para desenvolvimento e engorda.
O tratamento às sujidades presentes nos cascos é feito com o pedilúvio de água limpa e, no terapêutico, são consideradas dimensões adequadas de modo que os animais consigam dar ao menos dois passos na solução. Recomenda-se profundidade de pelo menos 20 cm e 2,5 m² de dimensões (altura x largura).
Pedilúvio de estação
Nesse caso a permanência dos animais se dá em tempo, de forma que eles devem ficar em pequenos grupos de animais, cerca de 10 minutos na solução de tratamento, após serem previamente limpos no pedilúvio de água limpa.
Nesse caso, se exige um pouco mais de atenção ao maneja-los e estruturas específicas que acomodem os pequenos lotes.
Confira também: Como proteger o rebanho de agentes externos
Como fazer pedilúvio na sua propriedade
Essa estrutura pode ser construída de diversas formas, como um fosso, utilizando de caixas d’água aterradas, ou até mais complexos e maiores. O importante é que seja capaz de reter água suficiente para que os animais possam lavar os cascos.
Acompanhe o vídeo abaixo para entender algumas sugestões simples e práticas para fazer o pedilúvio:
Conforme demonstrado no vídeo, existem meios de se ter um pedilúvio sem a necessidade de realizar muitos investimentos. Mas, de toda forma, caso pretenda construí-lo de fato, seguem algumas dicas de como fazer seu pedilúvio:
- Escolha um local adequado: o pedilúvio deve ficar em um lugar em que os animais possam ter acesso fácil e seguro. Além disso, deve estar perto da fonte de água (seja um riacho, poço ou mangueira) para facilitar o abastecimento;
- Prepare o terreno: antes de começar a construção é preciso preparar o terreno onde o pedilúvio ficará. Isso inclui nivelar a área e compactar com máquina adequada, se necessário;
- Construa a base: a base do pedilúvio pode ser feita de concreto, blocos de cimento ou madeira tratada. Ela precisa ser bem firme para suportar o peso dos animais e para evitar que a estrutura se movimente ou afunde no chão;
- Coloque os revestimentos: os revestimentos internos e externos do pedilúvio podem ser feitos de vários materiais, como azulejo, ardósia, borracha reciclada ou plástico rígido (PVC). É importante escolher revestimentos antiderrapantes para evitar acidentes com os animais;
- Instale as vedações: as vedações são importantes para manter os animais dentro do pedilúvio durante o tempo necessário. Elas podem ser feitas de cercas de madeira, telas metálicas, rede elétrica ou arames enrolados em postes;
- Válvula de água: outro componente importante de um pedilúvio é a válvula que regula o fluxo de água da bomba para as mangueiras.
Como utilizá-lo?
O manejo adequado do seu rebanho e do seu pedilúvio estão diretamente relacionados com a realidade da sua propriedade. Dessa forma, vacas de leite que são ordenhadas todos os dias e, em alguns casos, até duas vezes ao dia, têm contato com pedilúvio de água limpa em todas as ordenhas e com o terapêutico ao menos três vezes por semana.
Por outro lado, para animais mantidos livres em piquetes, o contato com o pedilúvio uma vez por semana já é o suficiente, desde que não haja problemas mais sérios observados.
A capacidade física do seu pedilúvio também deve ser levada em conta, sugerindo-se recipientes de 200 litros destinados a, no máximo, 130 cabeças. Outro aspecto fundamental é a higienização correta da estrutura, sendo necessário realizar a limpeza após cada passagem no lote.
A limpeza consiste em esvaziar o local do pedilúvio e realizar a remoção de todo acúmulo de dejetos nas paredes e no fundo do local, utilizando sabão e enxaguando bem. Após a secagem completa, preencha novamente com água limpa e/ou solução desinfetante.
Caso a higienização não seja feita corretamente, haverá o favorecimento do crescimento de bactérias, aumentando o risco de contaminação ao invés do tratamento pretendido.
Leia também: Avalie o ECC do seu rebanho e entenda a relação com seus resultados produtivos
Cuidados necessários recomendados
Utilizar o pedilúvio pode ser um processo complicado, especialmente se você não tiver a experiência necessária. Acompanhe as seguintes dicas:
- Antes de começar, certifique-se de que o local é seguro e bem preparado;
- Dê tempo para que o animal se acostume com o manejo inserido. É normal que gere um desconforto no início, especialmente por se tratar de um manejo novo;
- Esteja atento aos animais que pularem o pedilúvio, o que é comum de começo;
- Cascos muito sujos precisam de remoção mecânica das sujidades, por isso observe cuidadosamente;
- Atenção para a água limpa do pedilúvio, pois logo estará suja com a passagem dos animais e precisará ser trocada;
- Não descuide da qualidade do seu pedilúvio, caso contrário o objetivo do mesmo se perde totalmente.
Pedilúvio é somente para bovinos?
O pedilúvio pode ser uma boa alternativa para qualquer que seja o animal com cascos e mantidos em manejos produtivos.
Para maior fixação do tema, acompanhe o vídeo a seguir:
Esperamos que esse post tenha esclarecido as suas dúvidas sobre o pedilúvio e os cuidados necessários para manter os animais saudáveis, com capacidade produtiva garantida e, sempre, com respeito ao bem-estar animal.
Gostou desse conteúdo? Leia mais sobre boas práticas de manejo na nossa matéria sobre vacinas obrigatórias para bovinos. Boa leitura!