Considerando que grande parte do rebanho de ovinos se concentra no Nordeste, região de clima semiárido, a alimentação dos ovinos passa a ser uma questão de grande importância.
Segundo dados do IBGE, nessa região, contabilizou-se 14.561.928 ovinos no ano de 2020. Sendo assim, passa a ser ainda mais interessante caracterizar o cenário nordestino e o que está envolvido para mantença de rebanhos.
Bahia, Pernambuco, Piauí e Ceará são os principais estados que contam com criações de ovinos e caprinos em nosso país e isso é evidenciado através das pesquisas do IPEA, que, inclusive, trazem informações que destacam a considerável presença de pequenos agricultores familiares na pecuária não bovina do Nordeste.
Contextualizando a caprinovinocultura no Brasil
É importante destacar que o objetivo da cadeia de produção é o que vai nortear seu manejo de forma geral, ou seja, se sua criação tem somente a característica de subsistência familiar, pouco será o caráter produtivo aplicado. Em caso contrário, a atenção pode ser diferenciada.
Ponderar alguns aspectos relacionados à predominância dessa espécie no Nordeste brasileiro pode ajudar no entendimento mais claro acerca das dificuldades em relação ao planejamento alimentar ideal. Portanto, considere o cenário com as seguintes características:
- condições mínimas para o cultivo do solo e de culturas, devido a condição climática instável;
- adequação da atividade ao sistema de produção familiar, não exigindo mão de obra muito qualificada;
- necessidade de menor investimento inicial, ou capital para implantação e manutenção dos animais;
- ótimo mercado local e regional para venda do produto, já que é cultural o consumo de subprodutos da cadeia de ovinos e caprinos.
Como e por que dedicar atenção à alimentação dos ovinos
Como a maior parte dos rebanhos de pequenos ruminantes existentes na região Nordeste é criado livre a pasto, é fato que a nutrição é deficiente, já que a realidade do cenário é a caatinga. Assim, algumas opções são de extrema importância quando disponíveis, como por exemplo, palma, forrageiras, leguminosas e opções ricas em energia, como mandioca e sorgo.
Portanto, ajustar seu manejo pode contribuir com retornos produtivos e financeiros. Planejar o que oferecer, conhecendo as necessidades de cada fase da vida dos seus animais tende a trazer benefícios em situações de indisponibilidade de alimento que alguns períodos marcadamente trazem.
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O cenário nordestino
Predominantemente presente, a caatinga é característica dessa região. Além disso, trata-se de um bioma exclusivamente brasileiro, que apresenta grandes diferenças na época das águas e na seca. Observe:
Época das águas
Conforme já contextualizado, os ovinos e caprinos constituem a principal criação dos nordestinos, e são submetidos muitas vezes a sistemas pequenos e pertencentes a núcleos familiares.
Considerando a realidade climática e a realidade de vegetação na caatinga, o pastejo livre é possível na época das águas, o que ocorre em cerca de 3 a 4 meses por ano. Com esse período marcado, os ovinos podem pastejar com bom aproveitamento nutricional.
Para melhor aproveitamento desse manejo, a Embrapa disponibiliza algumas dicas: redução na quantidade de árvores por hectare, considerando as que tenham baixo potencial nutritivo, investindo muito mais em plantas herbáceas, ou seja, as de caule mole, que favorecem o hábito alimentar das cabras e ovelhas, manejo conhecido como raleamento e rebaixamento, associando ao enriquecimento com plantas de alto teor nutritivo, como a amoreira e o capim-gramão.
Se pretende cultivar pasto, trabalhando o manejo extensivo associado a oferta no cocho, algumas espécies dão mais resultados, entre elas:
- capim corrente;
- capim andropogon;
- tífton;
- brachiarias;
- capim- elefante;
- panicum (tânzania, mombaça, colonião, etc).
Considerando a lotação permanente, seria interessante que se utilizasse algumas espécies forrageiras que fazem touceiras, o que privilegia o hábito alimentar dos ovinos, além de favorecer o desenvolvimento das áreas, caso o manejo escolhido seja o pastejo rotativo.
Época da seca
Com a indisponibilidade nutricional das pastagens e até das herbáceas presentes na caatinga, chegada a seca, é vital considerar o plano alimentar.
É interessante que o produtor se organize para disponibilizar alimento de qualidade, realizando o plantio prévio de algumas culturas que podem garantir maior disponibilidade de energia, proteína, fibras e até mesmo água. São elas:
- mandioca;
- palma forrageira;
- cana-de-açúcar;
- milho;
- capineira;
- feno;
- silagem;
- resíduos industriais – especialmente os subprodutos das culturas frutíferas.
Dentre esses principais alimentos que podem ser utilizados como opção para o seu rebanho, especialmente na época de seca, sabemos que a mandioca, a cana-de-açúcar e os resíduos industriais merecem atenção e ajustes em relação ao balanço adequado, a fim de proporcionar fonte energética e proteica na mesma proporção.
Alimentos característicos da área
Convém ao criador nordestino conciliar as necessidades nutricionais dos animais com a capacidade de oferta de alimento. Para tanto, algumas espécies de herbáceas e cactáceas presentes na região têm sido estudadas a fim de garantir segurança na oferta.
Palma forrageira
Muito presente, são características da área e apresentam ótimo desenvolvimento e aproveitamento na alimentação dos ovinos.
Apesar do fato de concentrar pouca porção de fibras detergentes neutras (FDN), a composição da palma forrageira é de 90% água, com teores baixos de proteínas e carboidratos. Por isso, não se aconselha uso isolado na alimentação dos animais, considerando uma dieta equilibrada.
Pensando nisso, considerar que a oferta de palma picada no cocho deve estar associada a outros tratos de composição, evitando, assim, quadros de diarreia, baixo consumo de matéria seca e perda de peso.
Por outro lado, o cultivo é relativamente simples e pode ser feito inclusive em consórcio com outras culturas, apenas se certificando de que haja incidência solar direta nas raquetes das palmas.
Gliricídia
A Gliricidia sepium é uma leguminosa que tem alto teor de proteínas, o que contribui em grande parte com o planejamento alimentar e a oferta adequada e bem equilibrada de fibras, garantindo assim melhor qualidade no contexto geral.
Além disso, é uma herbácea com raízes profundas que vai contribuir com outros aspectos, por exemplo, com o fornecimento de madeira, sendo também opção para pastejo de bovinos.
Abaixo, veja um pequeno vídeo, detalhando um pouco mais a respeito da Gliricídia:
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Ovinos podem produzir mais com a alimentação ajustada
Com um direcionamento da criação bem definido, focando em investimentos na alimentação dos animais, o retorno é certo, tanto em termos de sanidade animal quanto em termos financeiros.
Sendo assim, espero que a partir daqui, seja possível melhor uso do alimento disponível em sua região!
E então, esse artigo foi útil para você? Aproveite e acesse também nosso post sobre manejo reprodutivo do gado leiteiro. Boa leitura!
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