A criação de ovelhas e cordeiros (seus filhotes) é uma atividade econômica que tem chamado a atenção dos produtores no Brasil, principalmente na região Nordeste. De acordo com o IBGE, em 2020, o rebanho brasileiro de ovinos atingiu 20,6 milhões de cabeças, um crescimento de 3,3% em relação ao ano anterior.
Essa atividade econômica tem quatro focos específicos: criação voltada à produção de carne, pele, lã e leiteira. Quem está envolvido nessa atividade deve ficar atento a alguns cuidados específicos que se deve ter desde o início da vida desses animais, com o propósito de garantir que cresçam fortes e saudáveis.
Na alimentação, por exemplo, é preciso ter em mente que os cordeiros não sobrevivem apenas do colostro. Ademais, cuidados antes mesmo do nascimento e até a desmama são fundamentais para garantir a saúde dos cordeiros e também das mamães, as ovelhas. É o que iremos abordar neste artigo. Confira!
1. Cuidados com a gestação das ovelhas
Os cuidados necessários para garantir uma boa qualidade de vida dos cordeiros começam antes mesmo deles nascerem. Estamos nos referindo do período de gestação das ovelhas.
Essa fase tem duração de aproximadamente 150 dias, sendo que os últimos 50 dias são os que merecem maior atenção. Isso porque é nessa última etapa da gestação que o cordeiro ganha até 70% de seu peso total.
Por esse motivo, a alimentação das mães, as ovelhas, deve ser suplementada de tal forma que garanta uma boa nutrição delas e dos futuros cordeiros. Uma dica importante: durante o período de gestação o criador não deve aplicar vermífugos, uma vez que podem afetar o desenvolvimento do feto e até causar má formação.
Então, é vital garantir boas condições às ovelhas, pois a saúde delas influenciará diretamente na vida saudável dos cordeiros.
Nascimento dos cordeiros
Nas primeiras duas horas após o nascimento, os cordeiros absorvem os nutrientes de forma mais efetiva e eficaz. Isso ocorre justamente com o primeiro leite produzido pelas ovelhas, isto é, o colostro.
Como em outros animais e até nas mulheres, é esse alimento que ajuda a garantir a imunidade dos filhotes nesta primeira fase de vida.
Após o nascimento, o criador precisa fazer a cura do umbigo e a pesagem dos cordeiros, bem como realizar a identificação, por meio de brincos ou tatuagens.
2. Instalações adequadas aos cordeiros
Os cordeiros precisam de um abrigo adequado que os protejam do sol, do vento e da chuva. O abrigo deve ser ventilado e garantir o conforto e higiene necessários a uma boa estadia.
Deve ter curral, comedouros, bebedouros e saleiros. O chão pode ser “batido” ou cimentado. Assim, essas instalações irão proporcionar uma boa conversão alimentar, altas taxas de crescimento muscular e adequada deposição de gordura.
Aliás, por falar em abrigo, é importante também planejar o período de nascimento dos cordeiros. Nesse sentido, o recomendado é que os partos ocorram em épocas mais quentes porque evitarão mortes por hipotermia.
Voltando à questão das instalações, construções de três lados são consideradas as melhores, pois oferecem espaço de circulação, ventilação e a proteção dos cordeiros. Um celeiro com baias também é útil porque dará a possibilidade de separar ovelhas doentes ou grávidas do resto do rebanho.
Como boa parte da criação de ovinos no Brasil ocorre na região Nordeste, onde predomina as altas temperaturas, a instalação de ventiladores nos abrigos é outro ponto importante visando qualidade de vida dos cordeiros, pois garantem a circulação de ar e tornam o ambiente mais fresco.
Por fim, certifique-se que o espaço onde os animais dormem esteja sempre limpo. Uma boa camada de palha fresca no solo garantirá que os cordeiros fiquem limpos, aquecidos em tempos frios e saudáveis.
Aliás, as instalações devem ser bem planejadas com o fim de que possam permitir a expansão ou uso alternativo em caso de uma circunstância que não estava no planejamento.
3. Cuidados com a alimentação
A dieta de todo cordeiro nos estágios iniciais da vida vai ser constituída, basicamente, do colostro produzido pela ovelha. Porém, bem antes da desmama, é importante realizar uma suplementação da dieta do animal com ração concentrada.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, Fernando Reis, os cordeiros podem consumir alimentos sólidos a partir do décimo dia de vida, uma vez que adquirem esse hábito observando suas mães. O detalhe é que o comedouro deve ter um tamanho suficiente para que não haja competição entre os filhotes.
Após o décimo dia de vida de um cordeiro, alimente o animal com ração concentrada, ofertada em pequenas quantidades (0,5% do peso vivo do cordeiro), com aumento gradual até chegar a 2% do peso vivo. Pode ser ofertado também feno.
É recomendável que a ração seja em torno de 18% a 22% de proteína bruta e de 75% a 80% de nutrientes digestíveis totais para suprir as necessidades alimentícias do cordeiro. A distribuição do alimento pode ser disponibilizada por sistemas próprios, como Creep Feeding.
O Creep Feeding é um sistema de alimentação focado exclusivamente em filhotes, que visa o aumento do peso após desmama, assim como acostumar o animal na suplementação própria no cocho.
4. Como fazer a desmama precoce dos cordeiros
A desmama do cordeiro é o momento em que o animal deixa de ser alimentado pelo leite da ovelha, passando a ter uma dieta apenas de alimentos sólidos. Existem três fases da desmama de um cordeiro, baseadas no estágio de vida do filhote. Os tipos de desmama são:
- Precoce: acontece entre 21 e 45 dias de idade;
- Semiprecoce: acontece de 60 a 100 dias de vida;
- Tardia: acontece entre 100 e 150 dias.
Apesar de criadores optarem por períodos de desmama diferentes, a fase mais aconselhável é a desmama precoce. Assim, beneficia tanto os cordeiros quanto as ovelhas. Confira as vantagens:
- Reduz a infestação de vermes;
- Aumenta gradualmente o peso dos cordeiros;
- Produtividade maior de lã das ovelhas que não precisam mais amamentar;
- Facilita o manejo do rebanho e proporciona às ovelhas a recuperação do escore corporal mais rápido, isto é, a quantidade de gordura e cobertura muscular.
Aliás, o desmame precoce é recomendado tanto nas propriedades que exploram as produções leiteiras como no caso dos sistemas intensivos de produção de carne.
No caso da propriedade ter uma pastagem de boa qualidade, é possível optar pelo sistema semiprecoce, com as desmamas tardias recomendadas somente em condições de criações extensivas.
De qualquer maneira, vale o ditado “cada caso é um caso”: é preciso levar em consideração os aspectos relacionados à fisiologia e ao desenvolvimento do aparelho digestivo desse jovem animal, e também a curva de lactação da ovelha.
No vídeo, confira dicas importantes de como fazer o desmame dos cordeiros sem causar estresse a esses animais:
5. Fique atento às doenças
Os cordeiros estão na fase mais frágil de suas vidas. Por isso é necessário cuidado extra com as condições de saúde desses animais.
Um dos principais fatores que podem afetar a saúde de cordeiros são baixas temperaturas, conforme já citamos anteriormente.
Dessa maneira, quando expostos ao frio durante muito tempo, os cordeiros perdem o apetite e, consequentemente, ingerem menos nutrientes energéticos. Logo ficam sujeitos à doenças infecciosas, como pneumonia. Isso sem falar no risco de morte por hipotermia que também já citamos.
A pouca higienização no local de convivência dos animais é outro fator que contribui para o aparecimento de doenças, como infecções ligadas ao aparelho respiratório e digestivo. Nessas duas situações, é importante manter o local de circulação dos animais limpo e aquecido.
Os primeiros dias de vida dos cordeiros devem ser acompanhados por profissionais veterinários especializados, com o intuito de avaliar as condições de saúde e desenvolvimento. Como outros animais, precisam ser vacinados contra diferentes doenças: aos 30 dias de idade, com dose de reforço após 30 dias da primeira aplicação.
Conclusão
Essas são algumas das principais medidas que vão ajudar a proporcionar uma boa qualidade de vida dos cordeiros. Assim, estará garantindo a ampliação do rebanho e de forma mais saudável!
Para saber mais sobre esses e outros animais, fique de olho no nosso blog!
