Saiba tudo sobre acidose ruminal e evite o quadro em seu rebanho

Saiba tudo sobre acidose ruminal e evite o quadro em seu rebanho

A acidose ruminal é uma doença metabólica que pode atingir qualquer ruminante, sendo o seu quadro clínico observado especialmente pela associação de fatores e histórico de manejo nutricional.

A síndrome tem relação direta com a alta ingestão de carboidratos – a chamada dieta hiperglicídica – na qual ocorre a fermentação e a produção de grande quantidade de ácidos que desequilibram o sistema digestivo dos ruminantes, resultando em altas taxas de mortalidade.

Como sabemos que esse tema é de grande importância para o pecuarista, preparamos este guia detalhado que aborda os principais aspectos da acidose ruminal, os sintomas mais comuns, as medidas preventivas a serem tomadas contra a doença, além de como tratar e prevenir essa problemática no rebanho de maneira eficaz. Confira!

Leia também: Verminose: 4 dicas para identificação e prevenção

O que é acidose ruminal dos bovinos?

A acidose ruminal é uma patologia aguda relativamente comum, com efeitos metabólicos de curso grave e presente principalmente no gado de leite.

A elevada ingestão de carboidratos, inicialmente, gera a rápida fermentação no rúmen, ocasionando quadros de desconforto e desequilíbrio severos decorrentes da alta produção de ácidos, refletindo na queda brusca do pH ruminal.

Em manejos intensivos esse problema é praticamente inevitável, já que a alimentação nesse sistema visa a oferta de energia em grandes quantidades.

Por isso, deve-se observar o equilíbrio na oferta de carboidratos e de fibras digestíveis totais de acordo com as necessidades nutricionais dos ruminantes, visando garantir a saúde do rebanho.

Rebanho se alimentando em cocho
Com o aumento da oferta de concentrados há a redução dos custos, além de maior deposição de gordura em menor tempo e até mesmo maior estímulo à produção de leite.

Segundo o Portal da Embrapa, em média 10% a 15% dos animais em situações de confinamento manifestam a doença, podendo atingir entre 1% e 50% e, quando não tratada, causa a mortalidade em mais de 90% dos casos. Além disso, a mortalidade ainda pode chegar a 40% mesmo com tratamento.

Na acidose aguda, a situação é mais grave, uma vez que o pH fica abaixo de 5,0, diminuindo consideravelmente a produtividade e aumentando demasiadamente o desconforto.

Acidose ruminal subaguda 

É a doença mais comum do rebanho e é conhecida como acidose subclínica. Nesse distúrbio as vacas têm problemas devido à alta concentração de ácidos graxos sendo fermentados no rúmen, havendo sobreposição da capacidade de tamponamento do sistema digestivo e absorção ruminal.

Embora os sinais clínicos sejam inespecíficos, podemos elencar alguns fatores principais para desencadear esse quadro, ou seja:

  • Oferta de alimentos concentrados a animais não adaptados;
  • Ingestão de altas quantidades de concentrados;
  • Reintrodução de concentrados após período de jejum;
  • Mudanças bruscas na dieta;
  • Alimentação conjunta de animais de diferentes faixas etárias.

Por fim, para detectar a acidose subaguda é necessário avaliar outros fatores, como movimentos ruminais, aparência e frequência do esterco e o teor de consumo de matéria seca com fibras digestíveis adequadas.

Acidose ruminal aguda

Essa é a acidose clássica, na qual o animal consome elevada quantidade de carboidratos suscetíveis à fermentação, gerando uma produção acentuada de ácido lático. É esse processo que causa a acidificação que pode levar o bovino à morte, com o pH ruminal atingindo 5,0 ou até menos.

Trata-se de um quadro bastante comum em rebanhos que não estão habituados ao consumo de ração e ingerem quantidades elevadas sem qualquer controle adaptativo. Assim, há a transformação do alimento em lactato pela microbiota do rúmen e seu acúmulo faz com que haja redução do pH ruminal. Caso não seja tratado, pode levar o animal a óbito.

Gado de leite confinado alimentando-se no cocho. Quando confinados, o risco de acidose é maior
Acidose ruminal é comum em bovinos leiteiros de alta produção, principalmente nas vacas em início e meio de lactação, momentos em que a produtividade é maior.

Veja também: Vacinas obrigatórias para bovinos: calendário e boas práticas de manejo

Quais são os sintomas mais comuns de acidose ruminal?

Como bem sabemos, a acidose subaguda não apresenta sinais clínicos precisos. Trata-se de um quadro mais silencioso que exige atenção aos detalhes mais sutis, como ao esterco (com fezes pastosas e moles, com coloração anormal) e às manifestações clínicas entre 12 e 24 horas após ingestão do alimento.

Em contrapartida, o quadro de acidose aguda apresenta uma série de sintomas, como:

  • Inapetência;
  • Diarreias sem causa evidente;
  • Perda de peso;
  • Menor desempenho zootécnico;
  • Diminuição na produção do leite;
  • Queda da condição corpórea;
  • Redução em cerca de 50% do período de ruminação/dia;
  • Distúrbios generalizados;
  • Maior suscetibilidade à infecções.

Uma vez identificado os sintomas, o diagnóstico de acidose precisa ser encaminhado a fim de iniciar a intervenção clínica

Por tratar-se de uma sistêmica que envolve a alimentação dos lotes, a patologia vai se estender a mais de um indivíduo da propriedade, podendo levar a prejuízos importantes caso o tratamento não seja iniciado rapidamente.

Assim, apesar de o pH do sistema digestivo dos ruminantes ser levemente ácido (entre 6,0 a 6,7) e manter o equilíbrio dos microrganismos, pequenas desatenções podem levar a quadros de severa preocupação e grandes prejuízos, como descarte precoce e predisposição a doenças secundárias.

Conheça os principais fatores para acidose ruminal

A principal causa da acidose ruminal é o desequilíbrio da microbiota ruminal. Segundo estudos, o rúmen é um ecossistema complexo e rico em diversidade de microrganismos, representando de 60 a 90% de biomassa, com cerca de 200 espécies catalogadas.

Com a intensa oferta de carboidratos altamente energéticos, há o maior crescimento populacional de microrganismos responsáveis pela fermentação, transformando-os em ácidos graxos em excesso, tanto que não há a completa absorção, sobrepondo-se ao tamponamento ruminal.

Entenda os fatores que estão envolvidos nesse processo:

Desequilíbrio e ausência de fibras

Um fator que não deve ser negligenciado é o equilíbrio na oferta de alimento. Quando o consumo de concentrado é elevado, a presença de feno torna-se fundamental, já que em certos períodos do ano o consumo de polpa cítrica e casca de soja pode ser maior.

Oferta de feno de qualidade à bezerro visando prevenir acidose
O fundamento principal da prevenção é a adaptação dos ruminantes a qualquer oferta de ração concentrada.

Fibra com tamanho inadequado

Além de avaliar o teor de fibras na dieta, pedaços muito grandes fornecidos ao animal também interferem no consumo. Em casos de fibras com corte inadequado ou em partículas muito menores que o aconselhável, há o risco de não ocorrer a ruminação e o efeito tamponante esperados, além do risco de perfuração do rúmen em alguns casos.

Portanto, sempre fique atento à distribuição uniforme dos componentes. Deve-se concentrar a atenção ao tamanho das partículas – por volta de 8 mm – estimulando a mastigação e a produção de saliva que, por sua vez, tem elevada concentração de bicarbonato de sódio, com pH de 8,2. Assim, tem-se um poderoso efeito tampão ao rúmen.

Períodos críticos

Podemos elencar alguns pontos ou momentos que são mais críticos e apresentam risco mais alto de complicações. Portanto, vale a pena atentar-se para as seguintes situações:

  • Início do trato com os animais: no contato prévio com o grão pode haver o consumo de uma dose tóxica caso não seja observado o nível de grãos na ração;
  • Ingestão diária total com pouco controle: a falta de controle da dieta e a oferta à vontade para todo o lote sem levar em conta as particularidades de cada animal leva ao consumo em excesso de carboidratos;
  • Queda brusca na temperatura ambiente: isso leva ao maior consumo de concentrado por parte dos animais, sendo importante tomar cuidado, principalmente com a oferta à vontade;
  • Caso de chuvas e grão mofados: nessas situações o consumo é reduzido ao mínimo por conta da capacidade seletiva dos animais. Porém, ao repor com grãos de qualidade, pode haver o consumo excessivo como efeito rebote;
  • Privação de alimento por 12 a 24 horas: seja por erro de manejo ou falhas não calculadas, necessariamente ocorrerá o efeito rebote.

Confira também: Papilomatose bovina: a prevenção é o melhor remédio

Como fazer o tratamento de acidose ruminal?

Com toda a certeza, em casos agudos em que se observam sinais característicos e, principalmente, com histórico confiável de manejo, o apoio laboratorial para o veterinário a fim de fechar o diagnóstico é raramente necessário.

Porém, é importante salientar que o tratamento só poderá ser feito com a indicação de um profissional para a prescrição de medicamentos e administração endovenosa. Inclusive, em casos mais graves, pode ser necessário sonda para esvaziamento do rúmen. Além disso, será preciso repor a microbiota ruminal com a associação de uma intensa fluidoterapia.

Na fase de recuperação, deve ser fornecida água em abundância e de qualidade e a reintrodução de grãos deve ser realizada gradativamente.

No entanto, a solução mais eficaz contra a acidose ruminal é a prevenção. Segundo a literatura, há duas principais frentes de tratamentos possíveis:

  1. Animais que tiveram acesso a altas concentrações de grãos e compõem um lote em que outros indivíduos já demonstram sinais clínicos evidentes:
    – Oferecer feno de qualidade à vontade, ou mesmo pasto;
    – Exercícios a cada 12 ou 24 horas para proporcionar movimentos digestivos;
    – Afastá-los da fonte de grãos em excesso.
  2. Identificado sintomas como anorexia, apatia ou mesmo diarreia em casos leves de acidose, recomenda-se:
    – Utilizar bicarbonato ou carbonato de magnésio (200 a 400 g/animal), sendo importante utilizar sonda para retirar o conteúdo indigesto;
    – Fluidoterapia para acidose metabólica: ringer com bicarbonato de sódio e terapias coadjuvantes para proporcionar alívio das demais esferas, tais como: laminite, choque, motilidade intestinal.

Em avaliação, se houver bom prognóstico, é possível submeter o animal a procedimento cirúrgico. Já para os casos crônicos, o tratamento é infrutífero e não justificável.

Gado Gir em confinamento, alimentando-se em cocho
É fundamental que seja dada atenção às particularidades dos indivíduos, por exemplo, o gado Gir é menos suscetível à acidose metabólica em relação aos taurinos da raça Jersey.

Como prevenir a acidose ruminal em seu rebanho

A prevenção é a medida mais eficaz contra a acidose ruminal. Para isso, o primeiro passo é manter a microbiota do rúmen dos bovinos sempre saudável, com o fornecimento de fibras adequadas para ruminação, sendo importante, inclusive, evitar a falta de comida entre os tratos. 

Portanto, fique atento e observe cautelosamente qualquer medida ajustada de oferta de alimento para os animais, especialmente em longos períodos sem comida.

Há opções no mercado como a monensina, que contribui na diminuição da acidose ruminal e proporciona maior eficiência na conversão alimentar. Concentrações próximas a 300 mg por vaca/dia podem ser usadas de forma preventiva, afetando diretamente as bactérias gram-positivas.

Além disso, ações simples ajudam a prevenir a acidose ruminal. Entre elas podemos citar:

  • Não sirva concentrado ou ração na dieta quando os bovinos estiverem famintos;
  • Ofereça as refeições fracionadas duas a três vezes por dia;
  • Evite oferecer grãos em grandes quantidades de uma vez;
  • Utilize até 40% da quantidade de grãos em relação a matéria seca;
  • Priorize fibras digestíveis de qualidade e em partículas de tamanho ideal que estimulem a ruminação;
  • Mantenha boas instalações e certifique-se de que o acesso acidental dos animais aos alimentos não ocorrerá;
  • Observe sempre a ruminação de seu rebanho.

Outra dica importante é a substituição do amido por fontes de degradação mais lenta. Também é crucial que haja fibra suficiente para o estímulo da mastigação e para o favorecimento da produção de saliva para não haver flutuações do pH. 

Contudo, embora a prevenção seja seguida à risca, em algum momento pode acontecer um descuido e um animal ter acidose. Portanto, é fundamental detectá-la o mais cedo possível para o controle do pH do rúmen.

Realize a correta adaptação para a oferta de concentrado

Opte sempre por fazer a adaptação dos animais a qualquer introdução alimentar, pretendendo trazer mais benefícios à produtividade, sem desconsiderar os fatores individuais. Atenção:

  1. Ofereça de 50 a 60% de volumoso e 40 a 50% de grãos por cerca de 7 a 10 dias;
  2. Com resultados satisfatórios, vá reduzindo em 10% a cada 2 ou 4 dias;
  3. Por fim, o nível esperado é de 10 a 15% de volumoso, com o restante concentrado e a suplementação de vitaminas e sais minerais.

A adaptação total pode ocorrer dentro de 3 a 4 semanas, sendo que essa relação correta de volumoso e grãos não provocará sobrecarga e prevenirá a acidose. Ressaltamos, porém, que é essencial considerar as respostas individuais dos animais, identificando sempre os mais suscetíveis.

Homem acariciando bovino em pasto, com pôr do sol ao fundo
Observar cada animal que compõe seu rebanho ou lote é fundamental para prevenir complicações e garantir alta produtividade de forma saudável.

Prevenir é sempre melhor

Agora, com esse guia completo sobre acidose ruminal, ficará mais fácil lidar com esse distúrbio do trato digestivo dos bovinos. No entanto, conte sempre com o auxílio de um médico veterinário para um tratamento eficaz.

Gostou das informações desse post? Então aproveite e acesse também o nosso texto sobre a síndrome da vaca caída. Boa leitura!

Related Post

Deixe uma resposta

Your email address will not be published. Required fields are marked *