A acidose ruminal é uma doença metabólica que pode atingir qualquer ruminante, sendo o seu quadro clínico observado especialmente pela associação de fatores e histórico de manejo nutricional.
A síndrome tem relação direta com a alta ingestão de carboidratos – a chamada dieta hiperglicídica – na qual ocorre a fermentação e a produção de grande quantidade de ácidos que desequilibram o sistema digestivo dos ruminantes, resultando em altas taxas de mortalidade.
Como sabemos que esse tema é de grande importância para o pecuarista, preparamos este guia detalhado que aborda os principais aspectos da acidose ruminal, os sintomas mais comuns, as medidas preventivas a serem tomadas contra a doença, além de como tratar e prevenir essa problemática no rebanho de maneira eficaz. Confira!
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O que é acidose ruminal dos bovinos?
A acidose ruminal é uma patologia aguda relativamente comum, com efeitos metabólicos de curso grave e presente principalmente no gado de leite.
A elevada ingestão de carboidratos, inicialmente, gera a rápida fermentação no rúmen, ocasionando quadros de desconforto e desequilíbrio severos decorrentes da alta produção de ácidos, refletindo na queda brusca do pH ruminal.
Em manejos intensivos esse problema é praticamente inevitável, já que a alimentação nesse sistema visa a oferta de energia em grandes quantidades.
Por isso, deve-se observar o equilíbrio na oferta de carboidratos e de fibras digestíveis totais de acordo com as necessidades nutricionais dos ruminantes, visando garantir a saúde do rebanho.
Segundo o Portal da Embrapa, em média 10% a 15% dos animais em situações de confinamento manifestam a doença, podendo atingir entre 1% e 50% e, quando não tratada, causa a mortalidade em mais de 90% dos casos. Além disso, a mortalidade ainda pode chegar a 40% mesmo com tratamento.
Na acidose aguda, a situação é mais grave, uma vez que o pH fica abaixo de 5,0, diminuindo consideravelmente a produtividade e aumentando demasiadamente o desconforto.
Acidose ruminal subaguda
É a doença mais comum do rebanho e é conhecida como acidose subclínica. Nesse distúrbio as vacas têm problemas devido à alta concentração de ácidos graxos sendo fermentados no rúmen, havendo sobreposição da capacidade de tamponamento do sistema digestivo e absorção ruminal.
Embora os sinais clínicos sejam inespecíficos, podemos elencar alguns fatores principais para desencadear esse quadro, ou seja:
- Oferta de alimentos concentrados a animais não adaptados;
- Ingestão de altas quantidades de concentrados;
- Reintrodução de concentrados após período de jejum;
- Mudanças bruscas na dieta;
- Alimentação conjunta de animais de diferentes faixas etárias.
Por fim, para detectar a acidose subaguda é necessário avaliar outros fatores, como movimentos ruminais, aparência e frequência do esterco e o teor de consumo de matéria seca com fibras digestíveis adequadas.
Acidose ruminal aguda
Essa é a acidose clássica, na qual o animal consome elevada quantidade de carboidratos suscetíveis à fermentação, gerando uma produção acentuada de ácido lático. É esse processo que causa a acidificação que pode levar o bovino à morte, com o pH ruminal atingindo 5,0 ou até menos.
Trata-se de um quadro bastante comum em rebanhos que não estão habituados ao consumo de ração e ingerem quantidades elevadas sem qualquer controle adaptativo. Assim, há a transformação do alimento em lactato pela microbiota do rúmen e seu acúmulo faz com que haja redução do pH ruminal. Caso não seja tratado, pode levar o animal a óbito.
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Quais são os sintomas mais comuns de acidose ruminal?
Como bem sabemos, a acidose subaguda não apresenta sinais clínicos precisos. Trata-se de um quadro mais silencioso que exige atenção aos detalhes mais sutis, como ao esterco (com fezes pastosas e moles, com coloração anormal) e às manifestações clínicas entre 12 e 24 horas após ingestão do alimento.
Em contrapartida, o quadro de acidose aguda apresenta uma série de sintomas, como:
- Inapetência;
- Diarreias sem causa evidente;
- Perda de peso;
- Menor desempenho zootécnico;
- Diminuição na produção do leite;
- Queda da condição corpórea;
- Redução em cerca de 50% do período de ruminação/dia;
- Distúrbios generalizados;
- Maior suscetibilidade à infecções.
Uma vez identificado os sintomas, o diagnóstico de acidose precisa ser encaminhado a fim de iniciar a intervenção clínica.
Por tratar-se de uma sistêmica que envolve a alimentação dos lotes, a patologia vai se estender a mais de um indivíduo da propriedade, podendo levar a prejuízos importantes caso o tratamento não seja iniciado rapidamente.
Assim, apesar de o pH do sistema digestivo dos ruminantes ser levemente ácido (entre 6,0 a 6,7) e manter o equilíbrio dos microrganismos, pequenas desatenções podem levar a quadros de severa preocupação e grandes prejuízos, como descarte precoce e predisposição a doenças secundárias.
Conheça os principais fatores para acidose ruminal
A principal causa da acidose ruminal é o desequilíbrio da microbiota ruminal. Segundo estudos, o rúmen é um ecossistema complexo e rico em diversidade de microrganismos, representando de 60 a 90% de biomassa, com cerca de 200 espécies catalogadas.
Com a intensa oferta de carboidratos altamente energéticos, há o maior crescimento populacional de microrganismos responsáveis pela fermentação, transformando-os em ácidos graxos em excesso, tanto que não há a completa absorção, sobrepondo-se ao tamponamento ruminal.
Entenda os fatores que estão envolvidos nesse processo:
Desequilíbrio e ausência de fibras
Um fator que não deve ser negligenciado é o equilíbrio na oferta de alimento. Quando o consumo de concentrado é elevado, a presença de feno torna-se fundamental, já que em certos períodos do ano o consumo de polpa cítrica e casca de soja pode ser maior.
Fibra com tamanho inadequado
Além de avaliar o teor de fibras na dieta, pedaços muito grandes fornecidos ao animal também interferem no consumo. Em casos de fibras com corte inadequado ou em partículas muito menores que o aconselhável, há o risco de não ocorrer a ruminação e o efeito tamponante esperados, além do risco de perfuração do rúmen em alguns casos.
Portanto, sempre fique atento à distribuição uniforme dos componentes. Deve-se concentrar a atenção ao tamanho das partículas – por volta de 8 mm – estimulando a mastigação e a produção de saliva que, por sua vez, tem elevada concentração de bicarbonato de sódio, com pH de 8,2. Assim, tem-se um poderoso efeito tampão ao rúmen.
Períodos críticos
Podemos elencar alguns pontos ou momentos que são mais críticos e apresentam risco mais alto de complicações. Portanto, vale a pena atentar-se para as seguintes situações:
- Início do trato com os animais: no contato prévio com o grão pode haver o consumo de uma dose tóxica caso não seja observado o nível de grãos na ração;
- Ingestão diária total com pouco controle: a falta de controle da dieta e a oferta à vontade para todo o lote sem levar em conta as particularidades de cada animal leva ao consumo em excesso de carboidratos;
- Queda brusca na temperatura ambiente: isso leva ao maior consumo de concentrado por parte dos animais, sendo importante tomar cuidado, principalmente com a oferta à vontade;
- Caso de chuvas e grão mofados: nessas situações o consumo é reduzido ao mínimo por conta da capacidade seletiva dos animais. Porém, ao repor com grãos de qualidade, pode haver o consumo excessivo como efeito rebote;
- Privação de alimento por 12 a 24 horas: seja por erro de manejo ou falhas não calculadas, necessariamente ocorrerá o efeito rebote.
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Como fazer o tratamento de acidose ruminal?
Com toda a certeza, em casos agudos em que se observam sinais característicos e, principalmente, com histórico confiável de manejo, o apoio laboratorial para o veterinário a fim de fechar o diagnóstico é raramente necessário.
Porém, é importante salientar que o tratamento só poderá ser feito com a indicação de um profissional para a prescrição de medicamentos e administração endovenosa. Inclusive, em casos mais graves, pode ser necessário sonda para esvaziamento do rúmen. Além disso, será preciso repor a microbiota ruminal com a associação de uma intensa fluidoterapia.
Na fase de recuperação, deve ser fornecida água em abundância e de qualidade e a reintrodução de grãos deve ser realizada gradativamente.
No entanto, a solução mais eficaz contra a acidose ruminal é a prevenção. Segundo a literatura, há duas principais frentes de tratamentos possíveis:
- Animais que tiveram acesso a altas concentrações de grãos e compõem um lote em que outros indivíduos já demonstram sinais clínicos evidentes:
– Oferecer feno de qualidade à vontade, ou mesmo pasto;
– Exercícios a cada 12 ou 24 horas para proporcionar movimentos digestivos;
– Afastá-los da fonte de grãos em excesso. - Identificado sintomas como anorexia, apatia ou mesmo diarreia em casos leves de acidose, recomenda-se:
– Utilizar bicarbonato ou carbonato de magnésio (200 a 400 g/animal), sendo importante utilizar sonda para retirar o conteúdo indigesto;
– Fluidoterapia para acidose metabólica: ringer com bicarbonato de sódio e terapias coadjuvantes para proporcionar alívio das demais esferas, tais como: laminite, choque, motilidade intestinal.
Em avaliação, se houver bom prognóstico, é possível submeter o animal a procedimento cirúrgico. Já para os casos crônicos, o tratamento é infrutífero e não justificável.
Como prevenir a acidose ruminal em seu rebanho
A prevenção é a medida mais eficaz contra a acidose ruminal. Para isso, o primeiro passo é manter a microbiota do rúmen dos bovinos sempre saudável, com o fornecimento de fibras adequadas para ruminação, sendo importante, inclusive, evitar a falta de comida entre os tratos.
Portanto, fique atento e observe cautelosamente qualquer medida ajustada de oferta de alimento para os animais, especialmente em longos períodos sem comida.
Há opções no mercado como a monensina, que contribui na diminuição da acidose ruminal e proporciona maior eficiência na conversão alimentar. Concentrações próximas a 300 mg por vaca/dia podem ser usadas de forma preventiva, afetando diretamente as bactérias gram-positivas.
Além disso, ações simples ajudam a prevenir a acidose ruminal. Entre elas podemos citar:
- Não sirva concentrado ou ração na dieta quando os bovinos estiverem famintos;
- Ofereça as refeições fracionadas duas a três vezes por dia;
- Evite oferecer grãos em grandes quantidades de uma vez;
- Utilize até 40% da quantidade de grãos em relação a matéria seca;
- Priorize fibras digestíveis de qualidade e em partículas de tamanho ideal que estimulem a ruminação;
- Mantenha boas instalações e certifique-se de que o acesso acidental dos animais aos alimentos não ocorrerá;
- Observe sempre a ruminação de seu rebanho.
Outra dica importante é a substituição do amido por fontes de degradação mais lenta. Também é crucial que haja fibra suficiente para o estímulo da mastigação e para o favorecimento da produção de saliva para não haver flutuações do pH.
Contudo, embora a prevenção seja seguida à risca, em algum momento pode acontecer um descuido e um animal ter acidose. Portanto, é fundamental detectá-la o mais cedo possível para o controle do pH do rúmen.
Realize a correta adaptação para a oferta de concentrado
Opte sempre por fazer a adaptação dos animais a qualquer introdução alimentar, pretendendo trazer mais benefícios à produtividade, sem desconsiderar os fatores individuais. Atenção:
- Ofereça de 50 a 60% de volumoso e 40 a 50% de grãos por cerca de 7 a 10 dias;
- Com resultados satisfatórios, vá reduzindo em 10% a cada 2 ou 4 dias;
- Por fim, o nível esperado é de 10 a 15% de volumoso, com o restante concentrado e a suplementação de vitaminas e sais minerais.
A adaptação total pode ocorrer dentro de 3 a 4 semanas, sendo que essa relação correta de volumoso e grãos não provocará sobrecarga e prevenirá a acidose. Ressaltamos, porém, que é essencial considerar as respostas individuais dos animais, identificando sempre os mais suscetíveis.
Prevenir é sempre melhor
Agora, com esse guia completo sobre acidose ruminal, ficará mais fácil lidar com esse distúrbio do trato digestivo dos bovinos. No entanto, conte sempre com o auxílio de um médico veterinário para um tratamento eficaz.
Gostou das informações desse post? Então aproveite e acesse também o nosso texto sobre a síndrome da vaca caída. Boa leitura!