O melhoramento genético envolve a seleção de animais com características desejadas e a oferta de ambiente adequado, no qual serão realizados acasalamentos dirigidos ao longo de gerações, resultando em indivíduos de alto potencial produtivo.
Os búfalos têm conquistado cada vez mais adeptos no Brasil, alcançando mercados de consumo variados. De acordo com o documento técnico da Embrapa Amazônia Oriental intitulado “Manejo reprodutivo de búfalos com o uso de biotécnicas da reprodução”, há grandes vantagens econômicas na criação da espécie bubalina, ressaltando-se a sua eficiência de conversão alimentar, rusticidade e aptidão para a produção de carne e leite.
Com o avanço da criação de bubalinos no país, o investimento em um maior controle zootécnico com vistas à aplicação do melhoramento genético é, sem dúvidas, o passo seguinte a ser dado. Entenda mais acompanhando este artigo na íntegra!
O que é melhoramento genético?
Primeiramente, vamos abordar o que de fato é o melhoramento genético, como funciona e para que é utilizado.
O melhoramento genético consiste no aprimoramento de determinadas características por meio da reprodução de machos e fêmeas que as possuam, ao longo de gerações. Para tanto, as principais ferramentas de melhoramento genético são: a seleção e o acasalamento (em caso de indivíduos da mesma raça) ou o cruzamento (em se tratando de raças diferentes).
Com o passar das reproduções, os atributos selecionados tendem a se tornar mais expressivos dentro de uma linhagem, gerando animais de maior potencial produtivo.
Esse tipo de abordagem já vem sendo utilizado há muitos anos com bovinos, mas ainda é pouco difundido entre os criadores de bubalinos, em razão da complexidade de implantar controles e estratégias zootécnicas.
Leia também: Como proteger o rebanho de agentes externos.
Realidade produtiva atual e próximos passos
Por muito tempo, a baixa adesão dos criadores ao melhoramento genético se baseou na dificuldade de domesticação de alguns indivíduos da raça. A espécie foi considerada “selvagem” pela maioria dos produtores, o que dificultou o seu manejo e, consequentemente, as ações de melhoramento.
Diante dessa realidade, é fato que alguns passos ainda precisam ser dados para o aprimoramento da espécie, especialmente no que se refere ao seu potencial produtivo.
Através de estudos, incentivos do governo e investimentos realizados em programas de melhoramento genético dos bubalinos, algumas estratégias vêm sendo desenvolvidas em conjunto com a associação nacional de criadores de búfalos, para evoluir a sua condição produtiva e promover o seu melhoramento.
Com o fim de facilitar a criação e aprimorar efetivamente os rebanhos de bubalinos, alguns passos foram dados para impactar diretamente a engrenagem econômica. Segundo aula do Prof. Dr. André Mendes Jorge, da Unesp de Botucatu, os objetivos do programa de melhoramento genético bubalino são:
- Estabelecimento de escrituração zootécnica do rebanho;
- Controle de dados produtivos, seja para a produção de leite ou para o monitoramento de peso dos animais;
- Escolha dos melhores animais do plantel produtivo, especialmente no que diz respeito a características reprodutivas;
- Seleção de reprodutores a partir de búfalas selecionadas;
- Implantação de programas e protocolos reprodutivos;
- Ampliação do contato da espécie bubalina com os pecuaristas em geral.
Quais as vantagens do melhoramento genético?
O melhoramento genético proporciona o aumento da receita, já que é feita uma seleção dos animais, objetivando o crescimento produtivo do plantel. Dessa forma, há possibilidades de se investir em melhorias e na ampliação da produção de forma geral.
Com a determinação dos marcadores genéticos de interesse produtivo do DNA de bubalinos houve ainda mais benefícios para a criação. Uma realidade mais próxima, pois as futuras gerações já estarão geneticamente mapeadas, contando com a contribuição das biotécnicas produtivas.
Assim, o incremento sólido passa a não se limitar apenas à uma região específica do Brasil ou mesmo à cadeia de produção de leite, mas abrange diversas regiões, com suas particularidades, bem como a produção de carne.
Vale a pena ressaltar alguns pontos importantes que o aprimoramento genético proporciona:
- Incremento real na produtividade;
- Maior resistência, diminuindo os gastos com terapias;
- Aumento de eficiência em conversão alimentar, com marcadores biológicos;
- Precocidade reprodutiva;
- Longevidade produtiva;
- Maior qualidade dos produtos, sejam para a indústria da carne ou do leite.
Como aplicar o melhoramento genético em búfalos?
Para a realização do melhoramento genético em bubalinos é essencial que se estabeleçam objetivos, incluindo as principais características de interesse a serem alcançadas por meio da seleção. Para tanto, é necessário que seja feito um monitoramento por meio do controle zootécnico de todos os animais e da produção de forma geral.
Dessa forma, temos:
- Controle zootécnico: escrituração dos dados individuais e do rebanho;
- Controle de produção: seja em litros de leite ou em ganho de peso.
Com base nessa avaliação inicial, é realizada a escolha do indivíduo que tenha as características pré-determinadas para que o objetivo traçado seja alcançado. Tratando-se de uma análise criteriosa, podemos indicar dois critérios de seleção:
- Análise genômica: verifica as principais características do DNA do animal, possibilitando que se faça uma avaliação geral do bubalino como reprodutor, bem como de suas crias e o que esperar delas;
- Teste de progênie: avaliação empírica dos resultados produtivos observados na sucessão do reprodutor. Geralmente envolve alguns anos de acompanhamento.
Dessa forma, fica evidente que somente com a reprodução e o advento das futuras gerações é que teremos respostas conclusivas a respeito do investimento realizado com a seleção de indivíduos. Paciência é o lema aqui!
Contudo, com o surgimento de biotecnologias reprodutivas, é possível favorecer e encurtar processos por meio de técnicas como, por exemplo, de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e de transferência de embriões, caso o produtor não disponha de tempo hábil.
Particularidades da IATF nos búfalos
Para dar início ao detalhamento técnico, é fundamental avaliar os aspectos reprodutivos exclusivos da espécie em questão.
As búfalas são poliéstricas estacionais de dias curtos, ou seja, podem apresentar vários cios na mesma época do ano. Na região Centro-Sul do país, por exemplo, observa-se uma variação de luminosidade dos dias, pressupondo intensidade reprodutiva no outono. O ciclo dura, em média, 21 dias, e o estro 20 horas, aproximadamente.
O banco de sêmen de reprodutores consagrados no mercado geralmente é externo, e optar por esse material significa maiores gastos, mas os resultados definitivamente serão melhores.
Os protocolos para a realização da IATF são um pouco divergentes mas, em suma, aconselha-se o uso de implante intravaginal associado à administração do hormônio eCG (gonadotrofina coriônica equina). Posteriormente, é realizado estímulo hormonal, geralmente nos dias 7 e 9, para suceder a inseminação propriamente dita.
Para maiores detalhamentos sobre o assunto, como a explanação detalhada dos prós e contras da IATF e a sua atual evolução no cenário de transferências de embriões em búfalos, acesse o material Manejo Reprodutivo de búfalos com o uso de biotécnicas de reprodução disponibilizado pela Embrapa.
Búfalos na pecuária são potencial de alta produção
Diante de todos os aspectos abordados, entende-se que a criação de búfalos apresenta grande potencial, seja na produção de leite de excelente qualidade ou tratando-se de sua carcaça, que apresenta bom rendimento com carne de alto valor. De fato, as criações de bubalinos podem ser bastante rentáveis e são capazes contribuir para o atendimento da demanda mundial de alimento.
Porém, é evidente também a necessidade de difundir essa atividade, promovendo a racionalização do manejo entre os criadores.
É fato que se tratam de animais de temperamento dócil, com potencial de alcançar altos índices de interesse comercial. Por outro lado, é essencial que atitudes simples sejam incorporadas ao manejo de criação da espécie, desde o envolvimento com associações de criadores e fundos de apoio à pesquisas, até mudanças de atitudes, dando ênfase à manutenção do controle de dados zootécnicos, reprodutivos, sanitários, nutricionais e de produção.
Portanto, respeitando-se a aplicação dos três pilares para uma criação eficiente – melhoramento genético, manejo e nutrição – o seu resultado é garantido ao longo das gerações. Além disso, é preciso manter-se atualizado e investir em conhecimento, pois o melhoramento genético de búfalos é um aprimoramento gradativo e as gerações seguintes demandarão ainda mais dos fatores externos para que todo o seu potencial genético adquirido seja expressado.
E então, gostou do artigo? Aproveite e acesse também nosso texto sobre como produzir leite de qualidade em sistemas livres de pastagens. Boa leitura!