Logística de transporte de animais: importância de uma boa gestão

Logística de transporte de animais: importância de uma boa gestão

A logística de transporte de animais, chamado também de “transporte de carga viva“, é uma das etapas indispensáveis para realização das atividades pecuárias, pois vai justamente garantir o deslocamento dos animais (arrematados em leilões, por exemplo), podendo ser executado por diferentes modais: rodoviário, marítimo, aéreo, ferroviário ou hidroviário, a depender da espécie.

Esse processo deve ser realizado objetivando o menor custo e a otimização do tempo, sem descartar a segurança dos animais. Por se tratar de carga viva, certamente necessita de cuidados especiais, devendo seguir normas de conservação, limpeza e segurança nos veículos, além do preenchimento de requisitos por quem irá realizar esse transporte.

Com o fim de transpor os desafios dessa logística, é necessário que o pecuarista crie estratégias inteligentes que garantam a qualidade do transporte, prazos confiáveis e preços justos. Nesse sentido, preparamos este conteúdo para ajudar você a compreender o funcionamento desses mecanismos e alcançar um verdadeiro diferencial competitivo nas atividades pecuárias. Confira!

Importância da logística na gestão do agronegócio

Antes de tratarmos diretamente sobre o tema deste artigo, que envolve especificamente as atividades pecuárias, é preciso enfatizar que logística é um processo que se faz presente no agronegócio como um todo, sem falar dos demais setores da economia do país.

De forma didática, a logística nada mais é do que o conjunto de métodos e meios destinados a entregar produtos e serviços no local certo, quantidade e hora combinados, atendendo as necessidades do cliente ao menor custo possível. Por meio dela é feito o gerenciamento do fluxo de produtos desde os pontos de fornecimento até o local de entrega.

Vista aérea de caminhões transportando produtos do agronegócio
A logística é indispensável à economia como um todo e faz a diferença no agronegócio.

Em regra, a logística ocorre na fase de planejamento, fase esta que todo produto ou serviço requer. Assim, quando é realizada nesta etapa inicial, pode reduzir ou prever possíveis falhas nos processos, garantindo que imprevistos possam ser revolvidos sem que interfiram no processo produtivo ou sejam convertidos em custos adicionais.

Na teoria parece simples, mas na prática existe uma série de fatores envolvidos, ainda mais quando falamos de atividades envolvidas no setor rural, a começar pelas condições de acesso à propriedade que, na maioria das vezes, não possui asfalto e se encontra a uma distância razoável dos centros urbanos. Por isso, é necessário que o transporte seja o mais eficiente possível.

Para que uma propriedade possa receber seus insumos, adquirir maquinário, receber ou enviar animais e assim por diante, é necessário ter uma boa infraestrutura de transporte à sua disposição.

No Brasil, a logística é responsável pela geração de empregos e renda para muitas pessoas, especialmente a partir do transporte de carnes (bovina e suína, por exemplo), vegetais, frutas e grãos, entre tantos outros segmentos. Como o país dispõe de boas condições de produção agrícola e pecuária, esses setores acabam fomentando ainda mais a atividade econômica do nosso país.

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Importância da logística no transporte de animais

Visto isso, vamos falar agora especificamente da logística de transporte de animais. Trata-se do ramo que envolve a escolha do melhor modal para transportar o maior número de mercadorias no menor tempo possível. Dessa forma, para que o objetivo da logística seja atingido, o transporte deve ser planejado e estudado de maneira detalhada, garantindo a integridade do produto.

Bovinos transportados em caminhão. Na foto, vãos no cargueiro que permitem a ventilação dos animais.
Os animais devem ser transportados nas melhores condições possíveis, incluindo ventilação.

Além de boas condições dos acessos às propriedades e aos locais de entrega desses animais, o pecuarista deve ficar atento a outro detalhe importante: o meio usado para a realização dessa logística.

São cinco os modais para transporte de carga viva: rodoviário, ferroviário, aquaviário, aeroviário ou hidroviário. No entanto, o mais utilizado no Brasil para o transporte de carga é o rodoviário. É fundamental realizar a escolha do modal de transporte mais adequado, levando-se em conta a necessidade de cada carga para atingir os melhores resultados.

Para que não ocorram danos ao bem-estar animal é necessário que ocorra o planejamento adequado do transporte, considerando os seguintes fatores:

  • preparação dos animais para a viagem;
  • escolha do modal adequado;
  • natureza e duração da viagem;
  • estrutura e manutenção do veículo;
  • documentação e qualificação do motorista boiadeiro;
  • subsídio de espaço, descanso, água, alimentação e observação dos animais.

Seguindo essas recomendações, evita-se que o animal seja levado ao estresse, causando contusões nas carcaças e afetando a qualidade da carne.

Logística de animais envolve condições do veículo e treinamento da equipe

O caminhão utilizado no transporte de carga viva exige cuidados na sua escolha, pois deve oferecer certa comodidade aos animais enquanto estiverem sendo deslocados, além de atenderem a requisitos de conservação e limpeza.

Essa etapa foge um pouco do controle do proprietário da fazenda, já que se trata de veículos de terceiros. Porém, cabe a ele verificar se o veículo possui condições satisfatórias de realizar o transporte da quantidade de animais desejada.

Além disso, o veículo deve possuir estrutura que atenda aos requisitos da legislação de transporte de carga viva, apresentando carroceria ventilada e piso antiderrapante para evitar acidentes com os animais. Outros detalhes devem ser verificados, como:

  • Ser resistente e compatível com o peso e o movimento dos animais transportados;
  • Verificar se as superfícies de contato apresentam proeminências e elementos pontiagudos que possam ocasionar contusões ou ferimentos nos animais transportados;
  • Dispor de meios de ventilação para minimizar os efeitos de temperaturas extremas;
  • Dispor de meios para visualização parcial ou total dos animais;
  • Possibilitar meios de fornecimento de água para animais transportados fora de caixas contentoras;
  • Possuir laterais e teto que protejam contra a fuga, a queda e a exposição de partes do corpo dos animais transportados para fora do veículo;
  • No caso de transporte de animais em caixas contentoras, o veículo deve dispor de estruturas que impeçam o deslocamento ou a queda dessas caixas;
  • Observar as especificações do fabricante do veículo, quando houver;
  • A lotação de animais que deve estar de acordo com as recomendações específicas do MAPA.

Além disso, a equipe envolvida nessa logística de transporte de animais deve estar bem orientada para que seja realizada com sucesso. É de suma importância que o motorista esteja preparado em termos legais, apresentando documentação em dia e a categoria da CNH (Carteira Nacional de Habilitação) necessária, bem como os cursos exigidos para a área.

Animais entrando em caminhão cargueiro. Na foto, quatro bovinos estão adentrando o veículo e uma pessoa segura as portas do caminhão para a entrada dos animais.
Antes do transporte dos animais é preciso que a equipe envolvida esteja bem treinada, além de verificar as condições do veículo que será usado nessa operação.

O preparo com a equipe e o motorista boiadeiro envolve conhecimento a respeito da espécie que vai transportar, noções de bem-estar animal, treinamento prático e constante, incluindo os de contenção de animais e socorro.

Esse processo (com a equipe) deve ser feito dias antes da operação, alinhando cada uma das funções. Verifique, por exemplo, a documentação dos animais, condições sanitárias, como vacinas e vermífugos e evitar o embarque de animais doentes ou desnutridos, o que será constatado através de avaliação de veterinários.

Logística de animais destinados ao abate

No caso específico de animais destinados ao abate, as atenções devem ser ainda maiores, mesmo porque poderá afetar a qualidade da carne e o peso dos bovinos, envolvendo inclusive a experiência dos motoristas.

O estudo divulgado pela Universidade Federal de Pelotas apontou que os animais (gado de corte) transportados por motoristas com menor experiência (menos de cinco anos) perderam cerca de 3% do peso corporal quando comparados com aqueles transportados por motoristas com mais experiência.

As condições da viagem também podem causar estresse e desgaste no animal, como estradas esburacadas com muitos solavancos e arrancadas repentinas.

A dificuldade do animal em manter-se equilibrado e em pé faz com que as reservas de glicogênio nos músculos dos bovinos sejam parcialmente ou totalmente exauridas, levando ao enrijecimento da carcaça logo na primeira hora após o abate.

Veículo utilizado no transporte de suínos.
No caso dos suínos, por exemplo, o veículo usado no transporte deve ter no máximo dois pisos.

A preocupação também é grande em relação à produção de suínos, conforme alerta a Embrapa. A logística de transporte que envolve esses animais exige cuidados específicos, como:

  • caminhão com no máximo dois pisos;
  • transporte realizado com calma e principalmente à noite, aproveitando as horas mais frescas e de menor temperatura.

O cuidado no transporte deve ser redobrado quando realizado em estradas não pavimentadas ou irregulares, devendo adotar cuidados especiais quando ultrapassadas 3 horas de viagem.

Transporte de carga frigorífica

Diferentemente do transporte de carga viva, a carga frigorífica exige recursos que mantenham os produtos em resfriamento, evitando a perda da qualidade dos produtos ou até mesmo a sua inutilização após o período de deslocamento.

Para isso, o veículo deve contar com alguns recursos indispensáveis, incluindo:

  • baú com total vedação;
  • dispositivos de resfriamento;
  • revestimento térmico, com o propósito de manter a temperatura interna.

O caminhão deve começar o resfriamento cerca de 15 minutos antes do transporte para que chegue a temperatura ideal para o transporte da carga. Para congelados, a temperatura ideal é entre -12°C e -18°C.

Caminhão transportando carga frigorífica. Homem manuseia a carcaça devidamente equipado com máscara e vestimentas adequadas.
No caso do transporte de carga frigorífica, a logística envolve a escolha do tamanho do veículo, mas todos devem ter o sistema de câmara fria visando garantir a qualidade do produto.

Além disso, deve-se verificar as condições de higiene do transporte e se a empresa responsável possui Certificado de Vistoria atualizado conforme a avaliação da autoridade de fiscalização sanitária responsável.

Veja também: Como proteger o rebanho de agentes externos.

Investir em tecnologia

Hoje, existem recursos tecnológicos que possibilitam a otimização dos processos internos e externos, facilitando a gestão das operações. Entre eles, estão as ferramentas de logística de transportes que trazem a tecnologia como grande aliada dos empreendedores, possibilitando atender as necessidades do consumidor, reduzir os custos e entregar serviços de qualidade.

Quem precisa transpor os desafios da atividade e alcançar um bom desempenho deve estar aberto a conhecer e adotar algumas ferramentas, como:

  • Planejamento de Recursos Empresariais (ERP): software que tem como objetivo averiguar os recursos da empresa em geral, sendo uma ferramenta de gestão integrada. Por meio dela, é possível verificar: o monitoramento da produção, o fluxo de caixa, emissão de nota fiscal eletrônica, controle de estoque e de custos, dentre outros;
  • Sistema de Administração de Transporte (TMS): essa ferramenta faz a gestão do transporte, encaminhando de maneira integrada a distribuição da mercadoria com programação automática do status de entrega para o consumidor com agendamento e rastreamento de entregas. Além disso, ela também mensura os gastos com transporte, recursos humanos, materiais, danos na entrega e de manutenção do veículo;
  • Sistema de Administração de Armazém (WMS): faz a gestão da armazenagem, englobando os departamentos de recebimento, separação, armazenagem e expedição de produtos;
  • Roteirizador: auxilia na diminuição de custos e otimização do tempo nas rotas, planejando o trajeto com melhor custo-benefício;
  • Telemetria: software utilizado para monitorar os veículos, rastreando a frota via sinal de rádio ou satélite em grandes percursos.

Por meio dos sistemas de gestão integrados haverá a automatização de alguns passos, ajudando a reduzir despesas e melhorar a qualidade das entregas.

Homem utilizando equipamento de proteção na cabeça e manuseando tablet com recursos tecnológicos. Ao fundo, caminhões em estrada.
Quando se trata de logística no transporte, é preciso investir cada vez mais em tecnologia.

Outro detalhe importante é estar atento a legislação de cada um dos segmentos, como é o caso do transporte de animais, tentando se manter o mais alinhado possível a elas para evitar complicações.

A logística no agronegócio sofre constantes atualizações em suas leis, apesar de muitas delas não serem devidamente cumpridas. No caso do transporte de animais, existe a Resolução nº 791 que aborda todos os detalhes e exigências do veículo em questão, segundo o CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito).

Conclusão

Portanto, a logística no transporte de animais exige cuidados específicos e detalhados se comparado com os demais setores do agronegócio. São questões fundamentais que garantem a saúde dos animais e o lucro tão almejado, especialmente na reta final da criação.

Outro fator importante que garante a qualidade dos animais envolve os seus cuidados antes mesmo de deixar a propriedade em que são criados. Assim, acesse nosso post que trata de como fazer os primeiros socorros na fazenda. Boa leitura!

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