Ter conhecimento de como realizar os primeiros socorros em animais criados na fazenda é um cuidado indispensável para todos os criadores e demais pessoas envolvidas na lida diária na propriedade rural. Esses atendimentos de emergência podem salvar vidas de diferentes espécies, ao menos até a chegada de um veterinário, nos casos mais graves.
É importante ressaltar que, geralmente, essas propriedades ficam distantes de municípios e, consequentemente, de clínicas veterinárias que estariam aptas a prestar atendimento. Portanto, o procedimento emergencial realizado no momento do ocorrido é indispensável.
Mas, afinal, como realizar os primeiros socorros em animais da fazenda? São justamente esses procedimentos que explicaremos ao longo deste artigo. Confira!
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Importância dos primeiros socorros
Apesar dos funcionários responsáveis pela lida do rebanho bovino e de outros animais possuírem experiência, nenhuma propriedade está livre dos riscos da ocorrência de um acidente.
Dessa maneira, é preciso que o pessoal seja treinado com o fim de garantir que esse atendimento seja realizado com urgência. Além disso, é importante possuir um kit de primeiros socorros sempre disponível e com fácil acesso.
Caso ainda não tenha considerado a hipótese de treinamento, vamos apresentar oito dicas importantes sobre como prestar um atendimento eficaz que poderá salvar a vida dos seus animais até a chegada de um profissional ou de uma equipe de urgência. Confira:
1. Tenha uma ação imediata
É fundamental que os primeiros socorros sejam realizados de maneira imediata após constatar, por exemplo, uma lesão em algum animal da fazenda. Esse cuidado ajudará a evitar o agravamento da situação.
Caso se trate de um ferimento ou lesão mais grave, é importante entrar em contato com o veterinário e seguir as orientações fornecidas por ele. Assim, considerando os resultados dos primeiros socorros, ele poderá até mesmo avaliar se há necessidade de deslocar-se até a fazenda.
A importância de se ter uma boa qualificação para a realização de ações imediatas é tão significativa que, em se tratando de primeiros socorros, existem inclusive cursos específicos sobre o tema que visam o treinamento de capatazes. Confira o vídeo:
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2. Prepare um kit de primeiros socorros
Como citamos no início do post, é importante preparar um kit de primeiros socorros e deixá-lo em local de fácil acesso.
Esse material deve também acompanhar os animais quando houver deslocamento em viagens, sendo importante conter, inclusive, os números de contato do veterinário e da emergência.
3. Analise as feridas com cautela
No momento de realizar os procedimentos de primeiros socorros em animais, é imprescindível analisar qual o tipo de ferimento e onde está localizado. Se possível, descubra também como se deu a ferida para facilitar o seu tratamento.
Em seguida, lave o local lesionado com água limpa e sabão neutro, fechando-o com gaze ou panos limpos para evitar que sujeiras entrem em contato com a lesão.
Em casos de perfurações, apenas após avaliação médica é recomendada a retirada do objeto cortante, já que há risco grave de hemorragias.
Por outro lado, tenha em mente que até mesmo as feridas menos profundas podem levar a óbito se não forem tratadas adequadamente, principalmente se um tendão ou bainha forem penetrados, ou ainda devido à possibilidade de infecções bacterianas.
Por isso, é fundamental entrar em contato com o veterinário para informá-lo sobre o ocorrido e para obter orientações sobre as medidas que devem ser adotadas de imediato. Certamente, esse profissional, ao compreender a extensão ou a gravidade do ferimento, dará novas instruções e eventualmente poderá, inclusive, deslocar-se à propriedade para prestar assistência.
É importante ressaltar que não devem ser aplicadas quaisquer substâncias ou sprays cicatrizantes nas feridas, pois pode interferir na escolha do melhor tratamento pelo veterinário.
4. Estanque o sangramento ao realizar os primeiros socorros
Em casos de sangramento, é preciso fazer o curativo oclusivo, ou seja, aplicar pressão na região do ferimento durante 3 a 5 minutos para estancá-lo, utilizando panos limpos. Se o estancamento não for bem-sucedido, continue fazendo pressão por um período de tempo maior.
Após a execução desse procedimento, contate o veterinário que, por sua vez, decidirá qual o tratamento mais adequado à situação. No entanto, ressalta-se que a ação imediata de primeiros socorros do funcionário ou proprietário da fazenda é imprescindível para evitar complicações ou até mesmo a morte do animal.
É válido ressaltar também a importância de desinfetar e limpar a região afetada, utilizando-se água fria ou gelo, pois ajudará a promover uma boa cicatrização do ferimento.
Situações em que não é possível identificar com facilidade a origem do sangramento, a água oxigenada é uma boa opção, pois ao retirar o excesso do sangue, mesmo que já ressecado, é possível identificar melhor o ponto de origem da perda de sangue.
Atenção: não use soluções caseiras como borra de café e açúcar para interromper o sangramento ou para o fechamento da ferida. Eles apenas sujam o local, dificultando os procedimentos posteriores para a recuperação do animal.
5. Cuidados com os partos difíceis
Inicialmente, é importante adotar boas práticas de manejo para diminuir a ocorrência de distocias, ou seja, dificuldades de expulsão durante o processo de parição.
Os cuidados imediatos podem determinar a sobrevivência dos animais, já que a distocia é a maior causa de morte em bezerros durante ou imediatamente após o parto, além de levar também à retenção de placenta, infecções uterinas e maiores intervalos entre as concepções.
Antes de mais nada, ao verificar que a vaca está em trabalho de parto, providencie uma área limpa, seca, espaçosa e bem ventilada para evitar que haja a contaminação do bezerro e da matriz no momento do parto e no pós-parto. Por esse motivo, são recomendáveis piquetes maternidade onde somente as matrizes próximas ao parto devem ser manejadas.
Em seguida, fique atento aos dois principais sintomas de distocia: trabalho de parto com duração superior a 8 horas e apresentação de sinais de que o bezerro não se encontra na posição correta. Em ambos os casos, a assistência deve ser iniciada.
Para verificar se o bezerro está posicionado corretamente, é realizado exame de palpação pelo canal do parto, com a devida higienização da área e utilização de luvas para evitar que haja a contaminação do local. Quando constatada a má posição do feto, a primeira alternativa deve ser a de ajustá-la.
Nesses casos, após o procedimento de correção, utiliza-se tração forçada para ajudar na expulsão da cria. A força utilizada para puxar o bezerro deve ser moderada e seguindo o ritmo das contrações uterinas, utilizando-se sempre material higienizado.
Apenas quando não for possível realizar a correção da posição fetal é que será efetuada a cesariana. Porém, tanto esse procedimento quanto as manobras de reposicionamento devem ser executadas por pessoas experientes. Por isso, a necessidade de preparo dos funcionários que estão na lida dos bovinos.
Existindo dúvidas a respeito da posição da cria ou quanto à possibilidade de realização do parto natural, o ideal é procurar aconselhamento junto ao médico veterinário.
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6. Identifique os sinais de cólica
É fundamental conhecer os sinais de cólica (dores na região abdominal) apresentados pelos animais, especialmente quando ainda estão com pouca idade, já que elas podem indicar problemas intestinais ou em outros órgãos que compõem o abdômen.
A rápida detecção das cólicas visa elevar as possibilidades de uma boa recuperação, em se tratando de primeiros socorros, assegurando o bem-estar e a integridade do animal.
Geralmente, os bezerros demonstram sinais de cólica chutando o abdômen ou permanecendo deitados na tentativa de aliviar a dor. O mesmo ocorre também com os equinos, que são comumente atacados por esse tipo de contratempo, devido especialmente ao desequilíbrio nutricional.
Nos primeiros dias de vida é normal que esses animais apresentem diarreia, uma das principais causas de dor abdominal. A diarreia em bezerros pode ser ocasionada por estresse térmico, por exemplo. Nesses casos é importante ministrar soluções eletrolíticas, associadas às mamadas, para conter a desidratação do animal.
No entanto, a partir do momento em que as fezes passam a ficar esbranquiçadas, com traços de sangue e odor fora do comum, é preciso ficar atento e buscar a ajuda de um veterinário.
7. Conheça a frequência respiratória dos animais
É muito importante conhecer a frequência respiratória das diferentes espécies de animais para auxiliar na prestação dos primeiros socorros de forma eficiente.
Para realizar uma boa checagem, analise o movimento da caixa torácica e da narina durante o processo de respiração e inspiração, lembrando que a prática de atividades que demanda maior movimentação e esforço dos animais podem elevar a frequência respiratória.
Como estamos abordando os bovinos como exemplo, saiba que a frequência respiratória normal desses animais em idade adulta varia entre 24 e 36 movimentos respiratórios por minuto, podendo atingir uma variação maior de 12 e 36. Ressalta-se, ainda, que essa frequência é mais elevada no período da tarde em relação ao período matutino.
O estresse térmico, por exemplo, é responsável por alterar a frequência respiratória do animal, aumentando-a (taquipneia) em razão das temperaturas elevadas nos ambientes. Quando isso ocorre, o animal aumenta o seu esforço para perder calor e manter a sua temperatura corporal, mas, em algumas situações, esses mecanismos de termorregulação podem não ser suficientes.
Nesses casos, outras respostas fisiológicas também podem ser observadas nos bovinos, como a redução no consumo de alimentos, o aumento da ingestão de água, a elevação da temperatura retal (hipertermia) e de superfície.
Dessa forma, o estresse térmico constante pode comprometer a saúde do animal, bem como a sua reprodução, a qualidade do leite, a composição e a ingestão de matéria seca. Estudos indicam, inclusive, que as vacas que se encontram nessas condições podem diminuir em até 55% a ingestão de alimentos, impactando todas as suas atividades, inclusive a sua capacidade produtiva.
Por isso, é importante verificar os sinais que o animal apresenta e monitorar corretamente a frequência cardíaca e a temperatura retal para garantir o seu bem-estar. Ao constatar que o bovino está sofrendo de estresse térmico, diminua a exposição à radiação solar e disponibilize sombras, sistemas de ventilação cruzada e ventiladores para auxiliar na minimização dos efeitos do calor.
8. Verifique as doenças metabólicas
Em se tratando de doenças que atingem o metabolismo dos animais, estas podem ocorrer em diversas situações. As mais comuns são motivadas por processos de intoxicações, geralmente causados pela ingestão de plantas tóxicas. Quando consumidas, podem inclusive levar o animal à morte em um curto período de tempo.
O procedimento de socorro, nesses casos, depende do tipo de planta ingerida, não existindo tratamentos específicos e eficazes que sejam capazes de reverter o quadro instaurado. No entanto, deve-se colocar o animal em repouso, procurando identificar qual vegetal foi consumido com o fim de facilitar o diagnóstico e evitar que os demais também sejam intoxicados.
Por isso, a medida mais adequada para impedir a ingestão dessas plantas é evitar ao máximo que os animais sejam submetidos à fome extrema, já que se tratam de plantas não palatáveis.
Outro composto que pode causar intoxicação em animais é a ureia. Atualmente, na bovinocultura, é muito comum a sua utilização como alternativa de suplementação de nitrogênio, já que é um composto economicamente mais viável durante o processo alimentar. No entanto, quando administrada em quantidade excessiva ou sem a devida adaptação, resulta em intoxicação do animal.
Os sinais clínicos da intoxicação se manifestam em torno de 30 a 60 minutos após a sua ingestão. Visivelmente, o primeiro indício marcante é a hipersensibilidade do animal, gerando um quadro de inquietude e irritabilidade.
Podem ser observados, ainda, sinais de desconforto, apatia, salivação excessiva, respiração rápida e difícil, enrijecimento dos membros, prostração, vocalização, dejeções frequentes, tremores musculares, dentre outros.
É importante acompanhar com atenção o consumo voluntário de ureia pelos bovinos, pois em caso de redução da ingestão ou diante dos sintomas mencionados, deve-se suspender imediatamente o fornecimento desse suplemento. Além disso, o tratamento deve ser imediato.
Uma boa alternativa de tratamento é administrar uma mistura de soro fisiológico e diurético para hidratação do animal, injetada diretamente no sangue, visando eliminar a sua toxicidade. Outra alternativa é ministrar vinagre ou ácido acético para baixar o pH, reduzir a hidrólise da ureia e a absorção de amônia pelo sangue.
Feitos esses primeiros socorros, o ideal é encaminhar o animal rapidamente a um veterinário para a realização de um rápido lavado ruminal, tomando as demais providências.
Portanto, recomenda-se que sejam identificados os agentes causadores da intoxicação do animal para que seja solicitado o atendimento de profissional o mais rápido possível. No entanto, as noções de primeiros socorros por um funcionário da fazenda pode ser um fator definitivo para salvar a vida de um animal.
Confira também: Papilomatose bovina: a prevenção é o melhor remédio.
Conclusão
Conforme demonstramos nesse artigo, ter conhecimento, ainda que básico, sobre os primeiros socorros é de fundamental importância para garantir a segurança e, em alguns casos, o salvamento da vida dos animais.
Importante ressaltar que esses procedimentos emergenciais não substituem o atendimento por um médico veterinário, porém a ação de forma imediata, conforme as dicas citadas acima, garantem o bem-estar e a qualidade de vida dos bovinos e demais animais.
Nossa dica de leitura complementar é o post sobre as vacinas obrigatórias para bovinos, que traz informações sobre o calendário de vacinação e boas práticas de manejo. Boa leitura!