Você sabe o que é o Escore de Condição Corpórea (ECC), qual a sua importância e como fazer a avaliação desse indicador nos seus animais? Em linhas gerais, trata-se de um fator numérico atribuído à condição corpórea das vacas e é obtido por meio de exame visual ou da avaliação clínica de cada animal, quando possível.
O ECC leva em conta a cobertura muscular e a deposição de gordura nos tecidos, havendo alguns pontos anatômicos preferenciais para a sua observação.
Em se tratando de rebanhos de corte e de leite, o manejo é estabelecido de forma homogênea, mas isso não significa que todos os indivíduos apresentarão os mesmos resultados. Por isso, é importante estipular medidas de avaliação e acompanhamento para alcançar melhores resultados produtivos.
Neste artigo abordaremos detalhes sobre o que é o ECC, o seu significado para a produção, como realizar a sua medição, além de outros aspectos importantes sobre essa escala para o setor pecuário. Confira!
O que é o escore corporal de vacas?
O escore corporal de vacas nada mais é do que uma medida utilizada para determinar o estado geral do animal, dando indícios, inclusive, de como está a saúde desse bovino.
A escala de ECC vai de 1 a 5 para gado de leite e de 1 a 9 para gado de corte. Desse modo, cabe ressaltar que, entre as avaliações que são majoritariamente visuais, determinam-se as seguintes variáveis:
- Gado de leite
- 1 a 1,5: magro;
- 2 a 2,5: moderadamente magro;
- 3 a 3,5: normal;
- 4 a 4,5: moderadamente gordo;
- 4,5 a 5,5: gordo.
- Gado de corte
- 1-2: magro;
- 3-4: moderadamente magro;
- 5: normal;
- 6: moderadamente gordo;
- 7-8: gordo;
- 9: muito gordo.
No entanto, destaca-se que há níveis de exigências diferentes para a criação de gado de leite e de gado de corte, sendo também determinante a habilidade visual de quem atribui o valor correto do ECC.
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ECC no gado de leite
Em se tratando de rebanhos leiteiros, dois pontos principais devem ser destacados: a sazonalidade da atividade e o manejo diário.
Primeiramente, por tratar-se de uma atividade sazonal, as condições de oferta de alimento e pico de produção variam ao logo do ano. Além disso, o simples fato de os rebanhos serem manejados diariamente, até 2 vezes ao dia, contribui para a maior proximidade dos criadores com os animais, pressupondo uma avaliação mais precisa, inclusive com palpação física.
Nesse contexto, os pontos que devem ser ressaltados anatomicamente durante a avaliação do ECC em rebanhos leiteiros são:
- Índices de deposição de gordura e massa muscular generalizada;
- Deposição de gordura na vértebra mediana do dorso;
- Acúmulo de massa gorda ao olhar a traseira dos ossos do ílio;
- A profundidade da cavidade de inserção da cauda e ponta do ísquio.
Considerando que o organismo do animal trabalha para encontrar a homeostase plena de todas as demandas corporais, ao consumir alimento, a vaca em período produtivo primeiramente irá equalizar as necessidades basais de manutenção, crescimento e lactação.
Assim, apenas em um segundo ou terceiro momento é que o organismo do animal direcionará as energias consumidas para a reprodução e deposição de gordura nos tecidos.
Dessa forma, para o gado de leite, é de suma importância considerar as principais fases da vida produtiva e avaliar o equilíbrio entre custo de manejo alimentar e atividade leiteira, objetivando priorizar o melhor para os animais e garantir um ECC mediano.
ECC no gado de corte
Com relação ao gado de corte, o seu contexto já é diferente, uma vez que é criado em condições de pastejo extensivo, alcançando margem de ganho de peso ideal ao longo de períodos altamente estendidos. Dessa forma, a avaliação do ECC, na maioria das vezes, é estritamente visual, requerendo habilidades desenvolvidas com intensivos treinos.
Contando com rebanhos maiores e soltos a pasto, a avaliação tende a determinar o peso médio para grupos de animais, já que a contenção é feita em lotes e não de indivíduos. Dessa forma, fique atento aos seguintes pontos:
- Não seja tendencioso e avalie todos os animais da mesma forma;
- Considere primeiro a face anterior do animal e somente depois vá para a posterior;
- Estabeleça uma sequência visual com pontos anatômicos bem determinados;
- Examine o animal parado e em movimento, mantendo os olhos fixos em pontos anatômicos;
- Utilize sempre o mesmo padrão visual de avaliação;
- Considere vários ângulos do animal e do lote que está sendo avaliado.
As avaliações do gado de corte são fundamentais para definir as necessidades de suplementação nutricional do animal de maneira mais assertiva. Além disso, a atenção com a condição corpórea é requerida para a determinação de aspectos produtivos, estação de monta e estação de nascimentos do gado. Mas, por quê?
Isso ocorre, pois as vacas magras frequentemente apresentam ausência de cio e, ao estabelecer a aplicação de técnicas de melhoramento genético ou biotecnologias reprodutivas, como é o caso da transferência de embriões, exige-se que as matrizes apresentem um bom escore de condição corporal para a obtenção de melhores resultados na taxa de prenhez.
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O que o ECC diz sobre o seu rebanho
O índice de ECC na pecuária ajuda os criadores não só a determinar o nível de gordura dos animais, mas também a definir o equilíbrio ideal do rebanho quanto ao bem-estar apropriado. Isso se deve ao fato de que a deposição de massa e gordura nos tecidos existe somente quando as necessidades basais do bovino estão sendo atendidas.
Dessa forma, é correto afirmar que animais bem alimentados e nutridos apresentam melhor desempenho produtivo, reprodutivo, refletindo ainda em um ECC adequado.
Lembrando que animais muito gordos têm maiores dificuldades para conceber e podem sofrer problemas relacionados à saúde, como doenças metabólicas, reprodutivas, cardíacas e respiratórias. Da mesma forma, animais muito magros também podem apresentar baixos índices de sobrevivência, reprodutivos e produtivos.
Por que aderir ao manejo de avaliação do ECC
Conforme já abordamos, o escore corporal é uma ferramenta útil para a avaliação do bem-estar animal. Mas, além de aferir as condições ideais às quais o indivíduo deve ser submetido, o ECC também oferece parâmetros que são passíveis de ajustes. São eles:
- Planejamento de suplementações ajustadas do rebanho;
- Preparo para as estações de cobertura e nascimento na propriedade;
- Possibilidade de uso do ECC como indicador de qualidade do leite.
Em contrapartida, por tratar-se de uma avaliação visual, a possibilidade de erros é uma realidade que preocupa os pecuaristas iniciantes. É sobre isso que trataremos a seguir.
Principais erros na avaliação do ECC
Quando a avaliação do escore é submetida a diferentes pessoas na propriedade, a possibilidade de obter informações conflituosas é significativa, gerando resultados pouco confiáveis. Por isso, é importante designar apenas uma pessoa para a avaliação do ECC dos seus animais.
O enchimento do trato digestório, em casos de recém consumo de água ou de volumoso em alta quantidade, pode confundir o avaliador, pois os animais aparentam estar mais gordos do que realmente estão. Do mesmo modo, bovinos em jejum parecem mais magros do que de fato são. Dessa forma, é fundamental estabelecer uma rotina de avaliação para evitar que esse tipo de equívoco aconteça.
A gestação é outro fator que pode induzir o analisador ao erro. Para que isso não ocorra, é fundamental considerar as anotações zootécnicas com dados e históricos produtivo e reprodutivo dos indivíduos e do rebanho.
Portanto, o treino e a paciência são os principais aliados para o alcance de resultados otimizados, já que a habilidade de avaliação vai se tornando cada vez mais precisa com o passar do tempo.
Quando e como realizar a medição do ECC?
No decorrer do ano, o gado sofre alterações de escore corporal, tendo geralmente uma elevação no verão e uma diminuição nas épocas mais frias e início da primavera. Além disso, tanto a quantidade quanto a qualidade de forragens oferecidas ao rebanho contribuem para as alterações de ECC de forma sazonal.
Outro período que exige cuidado é após o parto, pois é comum que a condição de escore corporal diminua nesse período. Nessa perspectiva, a medição do escore corporal das vacas deve ser feito periodicamente, independentemente da idade do bovino.
Veja algumas considerações de como aferir o ECC na prática:
Elencamos aqui os melhores períodos para realizar a medição do ECC das vacas:
- Pré-parto: é recomendável conferir o escore corporal da vaca até 90 dias antes do parto, já que constitui o momento em que é possível fazer o manejo direcionado ao ganho de peso, antecedendo o período de lactação e de demandas do parto que o animal vai enfrentar;
- Período de serviço: para reproduzir de forma saudável, as vacas precisam apresentar um bom ECC;
- Período de pico de lactação: o ideal é conferir o escore corporal 60 dias antes do desmame, pois, caso a vaca esteja magra, é preciso reduzir a demanda de nutrientes que acontece durante o período de amamentação. Nesse caso, é indicado que ocorra o desmame para elevar o score corporal da vaca juntamente com os procedimentos adequados.
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Método de avaliação com apoio da Embrapa
Considerando a importância de avaliar o índice de escore corporal, a Embrapa, em associação com pesquisadores, têm desenvolvido métodos de apoio muito úteis ao produtor rural.
O primeiro deles é o +Leite, um aplicativo desenvolvido pela Embrapa Rondônia e pelo Instituto Federal de Rondônia, que facilita a gestão do índice de escore de condição corporal (iECC) para vacas de leite. O objetivo da ferramenta é potencializar ao máximo a capacidade produtiva e oferecer ao produtor meios de realizar o controle do seu rebanho.
No entanto, o aplicativo não se limita apenas a considerar o ECC, mas leva em conta especialmente o rendimento de leite, a sanidade do rebanho, o desempenho reprodutivo, bem-estar animal, além da produtividade e lucratividade da propriedade. Dessa forma, o produtor consegue realizar um diagnóstico do potencial produtivo do rebanho e estabelecer medidas de manejo nutricional e reprodutivo visando aumentar a produtividade dos animais.
Além disso, a Embrapa Rondônia já havia lançado, em 2014, uma ferramenta chamada vetscore. Trata-se de um dispositivo formado por duas réguas articuladas que indica a condição corporal do animal quando posicionadas sobre a sua garupa. Por meio dele, é possível atribuir um número ao ECC e de, forma aplicada, identificar com precisão os animais que necessitam de suplementação e aqueles com escore corporal mais adequado. Resultado disso é o aumento das taxas de produção de leite e de prenhez.
Confira como fazer o uso do vetscore e as suas vantagens no vídeo a seguir:
Conclusões
Portanto, é fato que a avaliação do escore corporal das vacas deve ser feita de forma rotineira para que seja possível identificar precocemente as necessidades e eventuais problemas nutricionais, de produtividade ou de sanidade do rebanho. A partir do olhar bem treinado e do conhecimento disponível, é possível interpretar melhor os sinais que a condição corpórea apresenta.
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