Se você é pecuarista e utiliza cavalos ou mulas como ferramenta de trabalho, ou então cria esses animais para fins de exposições e competições, certamente consegue entender a importância da sanidade de suas tropas. Nesse sentido, você provavelmente já ouviu falar da anemia infecciosa equina, ou AIE, a tal febre do pântano, ou AIDS do equídeo.
Seja como for, é fundamental priorizar a saúde dos animais. Por isso, vem saber mais sobre essa doença importante, tema principal deste conteúdo. Acompanhe!
O que é e o que causa a anemia infecciosa equina?
Como o nome já diz, é um problema que afeta equídeos, sejam cavalos, muares ou asininos. Tem origem viral e é bastante contagiosa, o que aumenta a necessidade de total cuidado. Infelizmente trata-se de uma doença sem cura, que pode resultar tanto em animais assintomáticos como em sintomáticos com fases diferentes de sinais clínicos, o que detalharemos mais a frente.
Já considerada grande obstáculo para o crescimento da equideocultura, a anemia infecciosa equina causa graves perdas e prejuízos econômicos, uma vez que a conduta correta é o sacrífico do equino doente.
Apenas através de diagnóstico laboratorial é possível a exclusão total da AIE, uma vez que animais assintomáticos podem continuar disseminando o vírus, até mesmo à distância por meio de picadas de insetos como as mutucas e as moscas. Esses insetos são importantes vetores da doença e representam grande desafio no controle da endemia.
Conhecido também como AIDS do cavalo, esse vírus recebe esse título devido a capacidade de destruir as hemácias, ou células vermelhas, através do próprio sistema imune do indivíduo.
Além disso, há a capacidade de inserir o DNA viral no DNA do hospedeiro, permitindo a formação do pró-virus, de forma que, ficando incubado, o sistema de defesa não o identifica como doente ou infectado. Assim, permanece por longos períodos, até o animal ser exposto a doenças debilitantes ou estresse, que podem desencadear o aparecimento dos sintomas.
Em outras palavras, a complexidade da resposta imunológica do hospedeiro permite a sobrevivência do vírus, assim, é muito complicado estabelecer tratamento ou vacina que seja eficaz de fato.
Como o vírus da AIE é transmitido
Você já entendeu que o nível de contágio é extremamente alto e que o controle do vírus é muito complicado. Agora, como acontece essa propagação generalizada?
Primordialmente, a infecção pode ocorrer por contato direto com as vias de eliminação, seja em transmissão vertical, horizontal, sexual ou por meio dos vetores. Ou seja:
Vias de eliminação:
- sangue;
- sêmen;
- urina;
- leite.
Transmissão direta:
- Vetores – moscas e mutucas;
- Horizontal – ferramentas, equipamentos e materiais contaminados;
- Vertical – vida intrauterina, aleitamento materno;
- Sexual – através do sêmen contaminado.
Lembrando que, para acontecer de fato a contaminação é necessário apenas um contato direto com qualquer via de eliminação infectada, ou seja, em síntese, agulhas infectadas e material utilizado para montaria com presença de sangue infectado podem ser focos importantes da AIE.
Como então prevenir a anemia infecciosa equina?
A prevenção está diretamente relacionada a cuidados básicos, o que com certeza vai te animar um pouco mais, já que isso vai depender inteiramente de seus cuidados de manejo. Sendo assim, selecionamos então algumas boas práticas de manejo:
- Utilizar materiais sempre desinfectados – o que inclui: selas, esporas, cabrestos, agulhas e qualquer outro equipamento que possa conter vestígios de sangue infectado e causar ferimentos para contaminação sucessiva;
- Manter o controle das moscas, ou se esforçar consideravelmente;
- Atenção com o manejo reprodutivo controlado;
- Cuidado ao comprar ou introduzir um animal novo na tropa;
- Certificar-se que não há focos da doença na região que vive;
- Manter uma rotina de avaliações com veterinário, para acompanhar a saúde dos animais;
- Atenção especial a quadros sugestivos da doença – eliminar suspeitas;
- Cuidado com os asininos e muares, pois esses demonstram relativa resistência a demonstrar os sinais clínicos.
Principais sintomas da anemia infecciosa equina
Definitivamente, é vital facilitar a identificação do problema, logo, é muito importante conhecer os principais sinais clínicos da anemia infecciosa equina.
Obviamente, a anemia é um dos sintomas causados pelo vírus, assim como queda na quantia de plaquetas, chamada de trombocitopenia. São fatores identificáveis na fase aguda e através de exames laboratoriais. Além disso, você vai ver:
Fase aguda:
- febre aguda e persistente (1-3 semanas);
- icterícia (mucosas, como lábio, amareladas);
- falta de apetite;
- hemorragias ou sangramentos (por falta de plaquetas);
- petéquias (pontos vermelhos nas mucosas),
- fraqueza e perda de peso;
- perda no desempenho.
Fase crônica:
- febre episódica ou persistente;
- retardo no desenvolvimento;
- caquexia (emagrecimento evidente e rápido);
- edema ventral (barriga d’agua).
Fase sub-aguda (geralmente ocorre para os sobreviventes da fase aguda):
- febre moderada e contínua;
- infecção inaparente.
Como ter certeza que meu animal está doente?
O diagnóstico, portanto, é fundamental. Inclusive, é uma exigência dos órgãos de sanidade animal em nosso país, sendo uma doença de notificação compulsória, ou seja, deve ser comunicado as autoridades em caso positivo.
As análises laboratoriais são feitas a partir de soro coletado, ou sangue total, sem adição de anticoagulante. Deve ser armazenado em condições ideais, e encaminhado às unidades credenciadas pelo MAPA, acompanhados de resenha e documentação específica com dados do animal e da propriedade que se encontra, assim como o quadro clínico observado, o que exige a presença do médico veterinário credenciado.
A investigação pode ser direta, através do teste de imunodifusão em gel ágar – IDGA, conhecido também como “Teste de Coggins“. Nesse teste, há isolamento do antígeno e verificação da presença de anticorpos que precipitam ou reagem, modificando o meio de cultivo. Porém, esse resultado não detecta animais que tiveram contato com o vírus nos primeiros 5 a 7 dias, são esperados cerca de 15 a 25 dias para um resultado mais fiel.
Para agilizar o processo, o método de identificação dos anticorpos é a melhor solução. O teste ELISA, realiza a investigação indireta e é bem mais precoce, indicando o anticorpo de ligação já presente com cerca de 12 dias pós infecção.
Nesse contexto então, recomenda-se também o teste diferencial por meio de PCR e/ou observação histopatológica, especialmente para a artrite viral equina e a babesiose, frequentes e muito similares na sintomatologia apresentada.
Sendo assim, resumidamente, aconselha-se a associação dos dois principais exames – IDGA e ELISA, em conjunto com o diferencial por PCR e observação histopatológica em esfregaço sanguíneo.
E agora? Já tenho o diagnóstico, o que fazer?
Infelizmente, não há muito o que fazer, nem muitas soluções a apresentar. Como não há uma vacina ou remédio que resolva a questão, o vírus, uma vez instalado, permanecerá para sempre no animal.
Ressaltamos a necessidade de comunicação compulsória da presença de anemia infecciosa equina aos órgãos competentes. Os equídeos positivos serão eutanasiados ou isolados, marcados a ferro com a letra A, sendo necessário investigação sorológica de todos os animais, inclusive nas localizações imediatas.
Somente serão suspensas as investigações e a determinação de focos da doença em áreas que apresentem dois resultados negativos de todos os equídeos, por análise de amostras de 30 e 60 dias consecutivas.
Ademais, equinos que são submetidos a exposições e competições, por exigência, devem apresentar o certificado de estarem livres da AIE. Independente do fim, o resultado do exame tem validade de 60 dias contados a partir da coleta das amostras.
Enfim, eis aqui tudo o que você precisa saber sobre a anemia infecciosa equina. Portanto, é fundamental ficar de olho para evitar ao máximo a contaminação e acompanhar bem de perto seus animais, inclusive com o apoio de um veterinário.
Afinal de contas, a anemia infecciosa equina não tem tratamento nem mesmo vacina, e representa comprometimento importante nas criações de equinos.
Para ter essas informações sempre à mão e/ou distribuir aos funcionários da sua propriedade, faça o download do nosso panfleto informativo abaixo:
E então, gostou do artigo? Aproveite e acesse também nosso post sobre a raça de cavalo Paint Horse. Boa leitura!